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POLÍTICA Quarta-feira, 29 de Maio de 2019, 12:03 - A | A

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MEMÓRIAS DO CÁRCERE

João Emanuel revela convivência com presos “ilustres” nos três anos em que ficou preso

Ana Adélia Jácomo

Após ter ficado três anos preso no Centro de Custódia de Cuiabá (CCC), o ex-vereador João Emanuel contou nesta quarta-feira (29), durante entrevista transmitida ao vivo pelo Facebook, com a jornalista Marisa Batalha, editora-chefe do site O Bom da Notícia, detalhes da convivência com outros presos que passaram pela cadeia no período em que esteve detido.

 

Cumpriram pena no local, por exemplo, ex-secretários de Estado, políticos e empresários, como o ex-governador Silval Barbosa e os ex-deputados estaduais Gilmar Fabris e Mauro Savi. Também passaram pelo CCC os ex-secretários de Estado Éder Moraes, Pedro Nadaf, Marcel de Cursi, Arnaldo Alves e Paulo Taques. 

 

Ainda dividiram o cárcere com João Emanuel o procurador aposentado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, conhecido como Chico Lima, o empresário do ramo de factoring, Celson Luiz Duarte Bezerra, o empresário Giovani Guizardi e o delegado de Polícia Civil, Márcio Pieroni.

 

O caso que mais marcou João Emanuel teria sido o dia que o ex-secretário estadual de Fazenda Marcel de Cursi, preso na Operação Sodoma, em 15 de setembro de 2015, teve um infarto do seu lado, dentro da cela. 

 

Parou o coração do Marcel do meu lado e entrei em desespero! Comecei a bater a colher na grade pra chamar as pessoas que trabalhavam lá

“Vou contar uma coisa, até sem autorização dele, mas é um relato. O Marcel acordou mal naquele dia. Ele dormia do meu lado e eu percebi que ele não estava bem e o questionei. Ele disse que estava trêmulo e com dor no braço e no peito. Passou um tempo, ele estava deitado, e simplesmente infartou. Parou o coração dele lá, do meu lado e entrei em desespero! Comecei a bater a colher na grade[bigorna], pra chamar as pessoas que trabalhavam no presídio”, disse João Emanuel. 

 

Cursi foi socorrido pelos agentes e encaminhado para o Hospital Amecor, onde passou por uma cirurgia e se recuperou na UTI Coronária. Após o procedimento, voltou ao CCC. Atualmente em liberdade, após cumprir 1 ano de 10 meses de pena, e ainda respondendo pelos crimes de corrupção com medidas cautelares. 

 

“Mesmo assim, ele ficou firme. Voltou para a cadeia e cumpriu o resto da pena. (...) Não é fácil suportar cadeia e toda pressão da imprensa. Sendo massacrado dia e noite pela opinião pública. Tanto eu, quanto o Marcel, não fizemos delação premiada. Eu optei por não fazer porque não acredito em como ela funciona. Foi me apresentado a possibilidade, mas achei por bem não fazer, ainda que não tenha nada contra pois a vejo com uma estratégia de defesa”, afirmou ele.

 

Sem revelar os nomes, João contou que houve pessoas que precisaram ser separadas de cela, por conta de desentendimentos causados pelos processos ao quais respondiam. Outro caso que chamou a atenção foi uma discussão entre um preso e diversas pessoas. Segundo ele, o local de banho é coletivo e próximo a cozinha, tendo uma espécie de janela entre os cômodos.

 

“O cara tomava banho jogando água com sabão na nossa comida. Pensa nisso? Um cara pelado, na frente de um monte de gente e sem o menor cuidado. Foi uma discussão grande nesse dia”.

 

O cara tomava banho jogando água com sabão na nossa comida. Pensa nisso? Um cara pelado, na frente de um monte de gente e sem o menor cuidado. Foi uma discussão grande nesse dia

Outras lembranças dos tempos de presídio também foram rememoradas por João Emanuel, como o ex-governador Silval Barbosa, que segundo ele, era o que melhor jogava futebol, Pieroni o mais emotivo e Paulo Taques e Éder Moraes os que mais demonstravam força e persistência, após diversos recursos de habeas corpus negados pela Justiça. Todos foram condenados por crimes do colarinho branco, ou seja, não violentos e motivados por dinheiro. 

 

“Éder Moraes é um cara formidável. Ele ficou preso um ano, sempre ficava tentando colocar todo mundo pra cima na hora do banho de sol. Tem uma mente brilhante sobre aspectos financeiros e econômicos. Paulo Taques, de todos que passaram por lá, era o mais forte. Se tomava uma negativa no Tribunal, não desanimava, acreditava na defesa e passava força pra todo mundo”, contou ele. 

 

João Emanuel ficou detido em uma cela com quatro camas, televisão e ventilador. O banho era coletivo, em um chuveirão, como ele detalhou, e a alimentação vinha pronta. 

 

“As vezes eu lavava a carne para tirar um pouco do sal. A gente esquentava a comida em uma saco com uma gambiarra feita em uma panela com água e um esquentador[o famoso rabo quente]”. 

 

João Emanuel usa tornozeleira eletrônica e tem restrições por conta das medidas cautelares. É proibido, por exemplo, de frequentar bares e de sair de casa após às 21h. Cassado por corrupção, responde a processo por estelionato após ter montado uma empresa de fachada, a Soy Group, que teria aplicado golpes financeiros na ordem de R$ 50 milhões, em falsos investimentos na China.

 

Assista a íntegra da entrevista, concedida à jornalista Marisa Batalha, abaixo: