Após sete anos de negociações, a União Europeia e a China anunciaram nesta quarta-feira a aprovação política de um acordo que abre ainda mais o mercado chinês para investidores europeus. A aproximação traz ganhos econômicos para o bloco, mas coloca em risco o relacionamento entre Bruxelas e Washington, às vésperas da sucessão de Donald Trump.
Batizado como CAI (Comprehensive Agreement on Investment), o acordo abre o mercado chinês para investimentos europeus em várias indústrias, como automóveis, computação em nuvem, serviços financeiros e de saúde. Em contrapartida, os chineses ganham acesso aos mercados europeus de energia, varejo e energias renováveis.
Companhias europeias poderão oferecer seus serviços a estatais chinesas sem discriminação, e a transferência forçada de tecnologia — uma prática adotada pela China para permitir a entrada de empresas estrangeiras — está proibida. A China também se comprometeu a dar mais transparência aos subsídios dados a companhias chinesas.
O CAI também firma o compromisso de Pequim com os objetivos do desenvolvimento sustentável e com o Acordo de Paris , além da implementação das convenções da Organização Internacional do Trabalho, principalmente as que se referem sobre o trabalho forçado.
Em documento obtido pelo jornal South China Morning Post, o governo chinês classifica o acordo como o "mais ambicioso" já concretizado. E apesar de se limitar aos investimentos, o CAI é visto como mais um passo em direção a um tratado de livre comércio entre o bloco europeu e a segunda maior economia do planeta.
"O acordo vai reequilibrar nossas relações econômicas com a China", afirmou a presidente da Comissão Europeia , Ursula von der Leyen, em comunicado. "Ele dará acesso sem precedentes ao mercado chinês para investidores europeus, permitindo que nossos negócios cresçam e criem empregos".
Numa aparente provocação aos EUA, o líder chinês Xi Jinping destacou que os países europeus, aliados de primeira ordem de Washington , devem continuar trabalhando com a China no próximo ano, mesmo após a posse do democrata Joe Biden.
"2021 está chegando. Como duas potências líderes, duas civilizações, China e Europa devem mostrar comprometimento, agir proativamente, reforçar diálogos, aprofundar a confiança, lidar de maneira apropriada com as diferenças, dar as mãos para criar novas oportunidades e inaugurar uma nova era", afirmou Xi, segundo a agência estatal Xinhua.
Sob a presidência de Trump, os EUA travam uma longa disputa econômica e geopolítica com a China. E com o acordo, Biden sofre um duro golpe antes mesmo de assumir a Casa Branca.
Sua equipe já havia deixado claro que gostaria de retomar a parceria transatlântica para pressionar Pequim, encerrando a era de isolamento adotada por Trump. Na semana passada, Jake Sullivan, que será conselheiro de segurança nacional do próximo governo, afirmou que iria "consular nossos parceiros europeus em nossas preocupações comuns sobre as práticas econômicas da China".
Análise do Parlamento Europeu
"Estou certo de que Biden irá trabalhar para revitalizar as relações transatlânticas, mas este episódio é um dano inquestionável e haverá muitos questionamentos justificáveis se valerá a pena para Biden gastar tempo apostando alto na Europa", avaliou Thomas Wright, analista da Brookings Institution , em sua conta no Twitter.
Para entrar em vigor, o CAI ainda deve ser aprovado pelo Parlamento Europeu, e algumas vozes já expressam objeções ao acordo, sobretudo acerca das supostas violações de direitos humanos na China.
"Não é certo que o Parlamento Europeu dará seu consentimento", afirmou Reinhard Buetikofer, representante alemão do Partido Verde no Parlamento, em entrevista à Bloomberg."Nós faremos uma análise dura", completou.