Segunda-feira, 21 de Abril de 2025

ARTIGOS Domingo, 23 de Julho de 2023, 13:59 - A | A

Domingo, 23 de Julho de 2023, 13h:59 - A | A

FABRÍCIO FRAGA

Copa do Mundo, por que o Brasil não para?

(Foto: Ilustração)

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Na madrugada do último dia 20 de julho, exatamente as 3 horas do horário local, ocorreu a abertura da Copa do Mundo de Futebol Feminina – FIFA 2023. Em sua nona edição, o mundial pela primeira vez está sendo sediado em dois países: Austrália e Nova Zelândia. O evento esportivo contará com as maiores e melhores seleções femininas da atualidade, dentre elas, o Brasil.

Vice-campeã em 2007, a seleção feminina fará sua primeira partida, no início da manhã dessa segunda-feira (24), contra a seleção caribenha do Panamá. sso posto, a curiosa pergunta que podemos (e devemos) fazer ao caríssimo leitor é: você sabia desse evento??

A resposta sendo negativa ou positiva, faz com que mais pontos de interrogação surjam a partir de uma pergunta aparentemente simples, e de resposta sutilmente sincera, seguida de um notório rosear de bochechas, se o “não” for o prevalecente. Pinçando apenas uma dessas interrogações, qual será o motivo do país não parar para assistir os jogos da seleção feminina, assim como faz quando a peleja é do escrete masculino?

Basta chegar no ano de Copa, que as ruas começam a ser pintadas, o churrasco já fica marcado com seis meses de antecedência, a folga no trabalho já está planilhada, com direito a calendário riscado a caneta, tabelinhas, álbuns de figurinhas dentre outros. A expectativa é enorme, e o orgulho nacionalista fica maior – muitas vezes a flor da pele – com o peito estufado, estampando cinco estrelas no escudo da camisa amarela. Enquanto isso, as meninas que vestem também a mesma camisa amarela (sem estrelas estampadas), representantes legitimas do futebol brasileiro, não recebem nem a metade de tais expectativas, tampouco experimentam o sabor do mesmo orgulho.

Enquanto os homens já disputavam sua terceira Copa do Mundo, as mulheres estavam sendo cerceadas de participar de algumas modalidades esportivas no Brasil – incluindo o futebol – através de um decreto lei de 1941, com o argumento de serem “incompatíveis com as condições da natureza feminina”, se estendendo até o ano de 1971. Isso trouxe enormes prejuízos a mulher. Dentre eles, o principal foi a forma preconceituosa como eram tratadas quem se aventurava a jogar futebol, podendo ser visto até hoje em nossa sociedade, ou seja, o machismo em sua forma mais pura e naturalizada socialmente.

Foi preciso correr contra o tempo, e contra os mais sórdidos níveis de preconceito, para chegar ao que se encontra hoje em dia. Os primeiros passos foram dados lá atras, mesmo sem incentivo por parte das federações, clubes e sociedade em geral. Disputaram seu primeiro mundial em 1991, e hoje, mesmo que as condições ainda não sejam as melhores, o futebol feminino é uma bela realidade. Nunca se teve tanta mídia, divulgação, organização de competições e formação de base. Novos talentos vão surgindo nos clubes e consequentemente, abastecendo a seleção brasileira. Muito se tem por fazer, muito se tem a melhorar, mas não há uma época sequer com tanto otimismo, como as dos tempos atuais.

É preciso ressaltar, que as diferenças de expectativa de uma Copa masculina em relação a feminina, é reflexo direto da distância temporal, na representatividade entre homens e mulheres nos diversos espaços sociais, tais como as de relação de trabalho, de posição de chefia e liderança, de diferenças salariais, de trabalho doméstico, enfim, de atividades sociais em geral, onde ainda existe um abismo na igualdade entre os gêneros; mesmo largando do mesmo local de partida, os obstáculos são maiores entre um e outro. Isso desemboca diretamente nas práticas esportivas em geral, principalmente no futebol, que é um esporte historicamente feito por homens e para homens, ou seja, extremamente machista e segregador.

Portanto, as interrogações quanto ao tema estão por aí! É preciso que as novas gerações, possam vivenciar um momento em que, a diferença entre “eles e elas” no futebol não existam mais, e que o engajamento em eventos, principalmente as Copas do Mundo, seja totalmente igualitário. Que todos os brasileiros e brasileiras possam parar e assistir os jogos das meninas, pintar as ruas, os rostos, fazer churrasco, vestir suas camisas, enfim, celebrar o futebol acima de tudo e de qualquer coisa. E que a geração de agora, possa ser o ponto de partida e de virada, para essa tão importante e esperada mudança.

Fabrício Fraga é Professor de Educação Física do Ensino Fundamental I, no Sesi Escola Várzea Grande – Mato Grosso – Brasil