Em 1954 minha família tinha um dos poucos aparelhos de rádio na cidade em que morávamos. Nele eu me pregava escutando de tudo: “Repórter Esso”, outros noticiários, radionovelas, apresentações radiofônicas, humor, futebol e até a “Voz do Brasil”. Escutei de tudo. Foi naquele rádio que acompanhei em detalhes a crise, o suicídio e as consequências políticas da morte do presidente Getúlio Vargas.
Dali por diante nunca me afastei da política. Assisti e convivi com a tomada do poder pelos militares, a redemocratização, a primeira eleição pelo voto direto, a de Collor, em 1989, até hoje. O que se tem pra dizer é que o Brasil não guarda qualquer coerência na sua história política.
Desde os militares, em 1964, até hoje, em todas as eleições as regras foram modificadas pra atender aos interesses de momento dos grupos dominantes da política. Registro o “Pacote de Abril”, de 1977 através de um decreto-lei do presidente da República, que fechou o Congresso Nacional e modificou todas as regras da eleição no ano seguinte.
Em todas as eleições tem sido assim. Em 2018 já não é diferente. Em 2017 o Congresso Nacional aprovou uma mini-reforma eleitoral. Absolutamente conveniente aos congressistas da ocasião. Na essência ela facilitou a vida de quem hoje tem mandato e dificultou a renovação. Pros novos, restou os 45 dias de campanha, insuficientes pra se tornarem conhecidos como candidatos. Pior: o financiamento público da campanha será gerido pelos dirigentes atuais dos partidos políticos que vão beneficiar a quem lhes convier.
Esse é o quadro político-eleitoral. Mas o quadro real do país frente a si mesmo e ao mundo caminha na direção contrária. Quebrado por sucessivas gestões incompetentes e por uma gestão política predatória, o Brasil está a um passo do precipício. Déficit fiscal enorme, economia em retração, política incapaz, gestão pública corporativa, poderes caríssimos e a carga de impostos no limite. A receita seria o crescimento econômico.
O país responderia. Mas o interesse que está nas eleições não é esse. É a continuidade do poder e dos recursos financeiros do país nas mãos dos mesmos que o quebraram.
O mundo espera o mínimo de segurança jurídica pra investir no Brasil. Mas não é esse o propósito desta eleição. O propósito é a manutenção do poder dentro dos mesmos feudos que o conduziram e o quebraram nessas últimas décadas. A última, principalmente. Não parece teremos o que comemorar em outubro com o resultado eleitoral de 2018.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso