Domingo, 08 de Junho de 2025

ARTIGOS Sexta-feira, 06 de Junho de 2025, 15:57 - A | A

Sexta-feira, 06 de Junho de 2025, 15h:57 - A | A

Maria Nascimento Tezolin

O Caso trágico em Cuiabá: Um alerta urgente sobre o álcool e seus efeitos devastadores

Junho é mês de refletir sobre álcool e drogas. No último mês de maio, Cuiabá foi palco de uma tragédia que ilustra de forma dolorosa os perigos do consumo abusivo de álcool. Um pai de família, abalado por suspeitas de infidelidade conjugal e conflitos familiares, tirou a própria vida. Em um vídeo de despedida, Eli Corrêa reconheceu: “Entrei no álcool, errei com bebida”. Depois lembrou seu berço evangélico, com seu relato de perdas, admitiu a impotência diante do álcool.

Essa frase, carregada de arrependimento e desespero, revela uma realidade que muitos preferem ignorar: o álcool, quando consumido em excesso, pode ser um gatilho para doenças físicas e mentais, destruição de laços familiares e até mesmo para tragédias irreversíveis.

O álcool é uma substância legalizada, mas altamente perigosa quando consumida de forma abusiva e/ou irresponsável. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2022, aproximadamente 21.315 óbitos no Brasil foram atribuídos diretamente ao uso de bebidas alcoólicas, o que equivale a cerca de duas mortes por hora.

Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o álcool seja responsável por cerca de 2,6 milhões de mortes anuais no mundo, com 90 mil dessas ocorrendo no Brasil. Essas mortes estão associadas a doenças como cirrose hepática, doenças cardiovasculares, cânceres e acidentes de trânsito.

O uso de álcool ao dirigir é uma das principais causas de acidentes fatais no Brasil. Em 2021, 10.887 pessoas perderam a vida devido à combinação de álcool e direção, o que representa uma média de 1,2 óbito por hora. Em 2024 foram 12 mortes por hora, relacionadas ao uso de álcool. Em 2022, a taxa de mortes exclusivamente atribuíveis ao álcool foi de 10,4 por 100 mil habitantes. Em Mato Grosso, a situação é ainda mais alarmante. Em 2024 o estado apresentou taxas de internações e de mortalidade no trânsito por ingestão de álcool que é o dobro da média nacional e 3,6 mil pessoas foram presas por embriaguez ao volante

Embora cada história de abuso de álcool seja única, o caso ocorrido em Cuiabá reflete uma realidade comum: o álcool como um fator que contribui para a deterioração da saúde mental e emocional, o desgaste das relações sociais – trabalho, amigos, colegas de trabalho e prática de crimes. Isso porque, o consumo excessivo pode levar a transtornos como depressão, ansiedade e impulsividade, aumentando o risco de comportamentos autodestrutivos.

Neste contexto, é fundamental compreender que o alcoolismo é uma doença crônica e progressiva, mas há alívio em saber que é tratável. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece suporte por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Esses centros oferecem atendimento especializado para pessoas com transtornos mentais e problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas.

Além disso, organizações como os Alcoólicos Anônimos (AA) oferecem grupos –físicos e on-line - de apoio gratuitos e confidenciais, onde indivíduos podem compartilhar experiências e buscar recuperação em um ambiente acolhedor. Tem ainda, o al-anon que oferta ajuda para familiares e amigos adultos e o Alateen para familiares e amigos menores de até 18 anos. Os contatos são: (65) 3321 1020 (AA) e (65) 99205 6141 Al-anon e Alateen.

A tragédia em Cuiabá serve como um alerta para todos nós. Bom mesmo é abdicar do uso, mas quando a cessação não é uma opção, o consumo responsável de álcool é essencial para a preservação da saúde física e mental, bem como para a manutenção de relações familiares e sociais saudáveis. Mas há aquelas que não podem acessar o primeiro gole, que já se tornaram impotentes perante o álcool. Se você ou alguém que você conhece está enfrentando dificuldades relacionadas ao uso de álcool, busque ajuda. A recuperação é possível, e o primeiro passo é reconhecer o problema e procurar apoio.

Se você está em Cuiabá ou em qualquer outra parte do Brasil do mundo, lembre-se de que não está sozinho. Há recursos e pessoas dispostas a ajudar. Não espere que uma tragédia aconteça para agir. A prevenção começa com a conscientização e o cuidado consigo mesmo e com os outros.

 

Maria Nascimento Tezolin

Jornalista e especialista em dependência Química