Sábado, 27 de Julho de 2024

ARTIGOS Sexta-feira, 11 de Dezembro de 2020, 16:11 - A | A

Sexta-feira, 11 de Dezembro de 2020, 16h:11 - A | A

Fabrício Fraga

O dia do basta!

Nesta ultima terça-feira (8), a partida entre PSG e Istambul pela Liga dos Campeões, ficou marcada na história do futebol, por conta da atitude inédita e corajosa dos jogadores de ambos os times. Eles decidiram abandonar o campo após o ato de injúria racial, dirigido ao camaronês Pierre Wedó – auxiliar técnico do time turco – proferido pelo (pasmem!) quarto árbitro da partida, o romeno Sebastian Coltescu

De acordo com testemunhas, Coltescu se referiu a Pierre como “aquele negro”, ao pedir sua expulsão ao árbitro da partida, ainda no primeiro tempo. Após muitos protestos de jogadores e membros das comissões técnicas, tomaram a decisão de voltar ao vestiário e não disputar a partida com aquele quarteto de arbitragem. Histórico!

De acordo com testemunhas, Coltescu se referiu a Pierre como “aquele negro”, ao pedir sua expulsão ao árbitro da partida, ainda no primeiro tempo. Após muitos protestos de jogadores e membros das comissões técnicas, tomaram a decisão de voltar ao vestiário e não disputar a partida com aquele quarteto de arbitragem. Histórico!

De comum acordo e liderados por Neymar, Demba Ba e Mbappé, por exemplo, decidiram não retornar a campo, sendo a partida cancelada e remarcada. A repercussão ganhou o mundo. Notas de repúdio ao racismo e apoio à atitude dos jogadores, surgiram aos montes nas redes sociais. Outros atletas, celebridades, populares e até lideres mundiais, demostraram indignação e repulsa em decorrência do ato racista. No dia seguinte, o jogo reiniciou aos 14 minutos, de onde havia parado. Mas antes do apito, todos – em forma de protesto – se ajoelharam em campo com punhos cerrados, ao som do hino da Liga dos Campeões, demostrando todo descontentamento com o acontecido.

O que ocorreu em Paris marca historicamente, o dia em que jogadores de futebol, com uma atitude simples porem gigantesca, mostraram juntos ao mundo a indignação e desprezo por falas e atos racistas.

Ao abandonar a peleja, demostraram não só apoio a vítima naquele momento, mas também, representaram todos os jogadores e cidadãos, que já sofreram e ainda sofrem com essa bizarrice chamada racismo.

Tal atitude histórica nos mostra, o quanto o futebol é muito mais do que futebol. Uma simples partida, desde a compra do ingresso na bilheteria, até o comportamento tanto nas arquibancadas quanto dentro de campo, reproduzem fidedignamente muitas situações de nosso cotidiano, da nossa vida em sociedade. E o racismo não é diferente. Infelizmente ele aparece também nos estádios, pois está presente e enraizado em pleno século XXI.

É preciso que, no futebol em específico, o abandono de campo e a paralisação da partida seja uma coisa corriqueira e não um caso isolado. Que grandes jogadores saibam do seu verdadeiro tamanho dentro e fora de campo, pois isso encoraja outros jogadores a fazer o mesmo, bem como outros atletas e principalmente pessoas comuns, a lutar contra o racismo.

É necessário que as punições sejam exemplares e severas, e que todos – independentemente da cor – se posicionem, pois assim fortalece a luta contra esse mal que assola nossa sociedade.

Atitudes como essa, ampliam e tomam força em proporções gigantescas, mantendo viva a chama da indignação pela falta de respeito e empatia ao ser humano. Mais do que não ser racista é importante que atitudes antirracistas sejam tomadas, pois a luta é grande, árdua e incessante. Quem sabe um dia tudo isso cesse, e o jogo da vida flua normalmente, terminando sempre com a vitória de todos e consequentemente, um final feliz. Quem sabe...

Fabrício Fraga é profissional de Educação Física, especialista em Educação a Distância e Professor Tutor do curso de Educação Física da Universidade Paulista – Unip.