O publicitário, músico e idealizador do projeto 'Primeiro as Damas', Dario Scherner acabou dando um spoiler aos internautas que acompanham o portal O Bom da Notícia, que em uma das próximas fases da proposta que vem debatendo políticas públicas de prevenção e combate à violência contra a mulher nos bairros de Cuiabá e Várzea Grande, terá o protagonismo masculino nas rodas de conversa e na inserção de palestras.
A declaração de Scherner foi feita esta semana no Cast do Bom, apontando como de fundamental importância a presença destes homens nas discussões e no enfrentamento contra a violência de gênero. Para ele, a participação masculina é essencial não apenas para que os homens compreendam o problema da violência mas, sobretudo, enquanto atores sociais e partícipes de uma campanha que enseja colocar fim às estas agressões. E que também repassem essas informações para outros homens, criando uma rede de combate à violência sofrida por meninas e mulheres.
"Depois dos oito eventos que estamos promovendo, o objetivo da segunda fase é usar nossa rede para trazer o público masculino, ou seja, o homem como protagonista nas intervenções orais. Tem amigos meus, senhores, meninos, que a mãe, a irmã, a vizinha já sofreram violência e eles querem dar este testemunho. Essa participação do homem não é uma coisa normal, mas a gente precisa plantar a semente do amor, da paz, sobretudo, da tolerância. Assim, esta participação será muitissimo importante, não só como testemunho mas, igualmente, enquanto disseminadores, pois serão eles que vão passar isso para os amigos, vizinhos, conhecidos, colegas de trabalho, enfim. Informações que vão ensinar, até detectar os sinais destas agressões, porque as vezes a falta de informação faz o homem agredir alguém, por conta da nossa criação, por um mundo concebido dessa forma, mas que pode e precisa mudar", contou.
O bate-papo no Cast do Bom com a jornalista Marisa Batalha, editora-chefe do portal O Bom da Notícia, contou além do publicitário ainda com a tenente-coronel Emirella Martins, que comandou por anos a Patrulha Maria da Penha em Mato Grosso.
Inclusive, de acordo com Emirella Martins, existem algumas alternativas e ferramentas que teria utilizado em sua longa experiência na Polícia Militar que se mostraram altamente eficientes. Dentre elas os grupos reflexivos, criados para policiais agressores. Rodas de conversa que puderam ajudar imensamente estes homens e provaram a eficácia destes bate-papos, dentro destes grupos, na prevenção de futuros casos de violência.
"O grupo reflexivo mostra bem isso. É uma experiência que fizemos com policiais militares, autores de violência de gênero. Discutimos com eles, dialogamos sobre o assunto. Foram 10 encontros, cada um com uma temática, de forma gradativa. Nos primeiros encontros eles vão por obrigação, com uma resistência enorme, lá pelo quarto encontro eles começam a entender e a enxergar tudo e como podem mudar este ciclo de violência. Agora estamos colhendo os resultados, esses homens estão oferecendo depoimentos do quanto o grupo reflexivo abriu a visão deles, mudou a vida deles. Inclusive, para muitos, na cabeça deles, não estavam sequer praticando violência", explicou.
'Primeiro as Damas''
O projeto 'Primeiro as Damas' foi idealizado pela ONG Piano Gente e vem contando com parcerias importantes como da Defensoria Pública de Mato Grosso, Assembleia Legislativa, Governo de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Esportes(Secel). Com o objetivo de educar e sensibilizar a população sobre a gravidade da violência contra a mulher, utilizando a cultura e a música como uma ferramenta de transformação social.
Para Dario, idealizador da proposta, para tornar 'Primeiro as Damas' uma realidade foi necessário uma grande diversidade na equipe, como forma de trazer perspectivas inovadoras sobre todas as áreas que atendem as vítimas de violência.
"Nossa rede é composta pela tenente-coronel Emirella, a psicóloga Vastir Maciel, Verônica Meirelles, que discorre lindamente sobre a saúde mental, a doutora Juda Maali Marcondes [delegada de Defesa da Mulher de Cuiabá], a Fabiana Soares, que é assistente-social da Secretaria Municipal e coordenadora há 8 anos da Casa de Amparo da Mulher. Cada uma discorre sobre sua especificidade. Ou seja, cada uma destas participações são importantes porque têm o poder de se tornar a porta de entrada da delegacia, da Polícia Militar, da Patrulha Maria da Penha, da Defensoria Pública, do Tribunal de Justiça, das psicólogas nas áreas de assistência social e nos atendimentos nos consultórios. Sobretudo, quebram barreiras para que esta mulher agredida aprenda a ter lugar de fala e se apropriar deste espaço. Claro, muitas se reservam a não falar, mas muitas têm essa liberdade", disse.
Ainda de acordo com Dario, o ambiente que o 'Primeiro as Damas' cria, utilizando-se também da música, ajuda a deixar os participantes confortáveis para contarem suas histórias e contribuirem para a discussão.
"Quando a pessoa vê um ambiente onde tem música, piano, sax, bailarinas e palestras para falar de coisa séria, para falar sobre violência de todos os tipos contra a mulher, parece ficar mais fácil dar seu testemunho [...] O ambiente que a gente preparou para esse projeto é um ambiente que a pessoa se sente à vontade, não que em outros não fiquem, mas quando a gente fala de um tema tão sério, com pessoas tão tarimbadas, com uma música, uma apresentação lúdica, elas se abrem", ainda afirmou.
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