O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) apresentou, nesta quarta-feira (2), durante sessão remota, voto de repúdio ao ministro da Economia, Paulo Guedes, em razão da elaboração de relatório intitulado "Mapa de Influenciadores", no qual lista jornalistas e influenciadores digitais como "detratores", "neutros" e "favoráveis" ao governo. Além de questionar o caráter antidemocrático da listagem feita pelo governo, Contarato apontou o uso de dinheiro público — R$ 2,7 milhões — para uma ação alheia ao papel do Estado e em plena pandemia.
De acordo com Contarato, o relatório denominado "Mapa de Influenciadores" classificou 81 jornalistas e formadores de opinião, listando 50 deles como "detratores". O senador enfatizou que a liberdade de expressão e de informação é um dos principais pilares da democracia. E, segundo ele, não cabe a este governo, nem a qualquer outro governo, elaborar e compartilhar tais informações.
— Detratar, como sabemos, significa detrair, deprimir a fama, a reputação, o mérito; depreciar, difamar. O termo 'detrator', caras e caros colegas, foi bastante utilizado pelos órgãos de repressão da ditadura militar. Queremos deixar expressa nossa indignação a esse relatório, pois jornalistas e formadoras e formadores de opinião não são detratores. São profissionais fundamentais à democracia — justificou.
Ditadura
Ao questionar sobre o investimento de dinheiro público nessas ações em meio a pandemia, o parlamentar observou que no contrato para elaboração do relatório, que a empresa BR+ Comunicação entregou ao Ministério da Economia, consta o valor de R$ 2,7 milhões.
— Não podemos permitir que fatos que ocorreram na ditadura militar se repitam no presente. Não podemos permitir a utilização do aparelhamento estatal para perseguições políticas e ideológicas. Não podemos permitir, caras e caros parlamentares, que o dinheiro público, tão escasso nos dias atuais, seja utilizado para tais fins — enfatizou.
Dossiê no Ministério da Justiça
O senador comparou o "Mapa de Influenciadores" com o dossiê do Ministério da Justiça e Segurança Pública que compilou informações sobre servidores públicos identificados com o movimento antifascista. De acordo com Contarato, o Supremo Tribunal Federal considerou que tal dossiê caracterizava desvio de finalidade e suspendeu a produção e compartilhamento daquelas informações. O parlamentar ressaltou posicionamento do ministro do Supremo, Edson Fachin, de que "só em governos autoritários é que se pode cogitar dessas circunstâncias".
Contarato relatou que, embora Paulo Guedes negue ter encomendado o "Mapa de Influenciadores", muitos questionamentos permanecem.
— Quem encomendou, afinal? Por quais motivos? Para qual finalidade? Por quê foi utilizado o termo 'detrator'? Esperamos que o Ministro da Economia esclareça todos esses pontos e não mais se incline a ideias autoritárias. É o que propomos com o presente voto de repúdio — finalizou.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)