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POLÍTICA Terça-feira, 21 de Novembro de 2023, 18:37 - A | A

Terça-feira, 21 de Novembro de 2023, 18h:37 - A | A

'TAPA NA CARA'

Vereadora Maysa Leão se indigna com prisão domiciliar de Carlinhos Bezerra

Marisa Batalha/ O Bom da Notícia/Com assessoria

Nesta terça (21), a vereadora Maysa Leão (Republicanos) expôs toda a sua indignação na Tribuna da Câmara de Cuiabá, com a decisão de prisão domiciliar concedida a Carlinhos Bezerra, de 57 anos, filho do ex-deputado federal Carlos Bezerra (MDB), presidente da legenda em Mato Grosso.

Autor do feminicídio de Thays Machado e do seu namorado, Willian Cesar Moreno, em 18 de janeiro de 2023, Carlinhos estava em prisão preventiva. Ele conseguiu, na Justiça, no final da semana passada, o direito à prisão domiciliar. A decisão é da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, após, o desembargador José Zuquim Nogueira acatar os argumentos dos advogados de que o empresário estaria com problemas de saúde e debilitação mental.

Sob a justificativa, que o réu não possuia indícios que voltaria a praticar outros crimes se estiver em prisão domiciliar, foi dado a ele o direito de ser monitorado em casa 24 horas por dia. Igualmente, foram fixadas medidas cautelares, incluindo o recolhimento domiciliar integral, monitoração eletrônica, retenção do passaporte e a obrigação de apresentar relatório médico detalhado em um prazo de 90 dias para reavaliação da medida.

Para a parlamentar - que faz parte de vários coletivos - e é uma das coordenadoras do Movimento Conecta, que iniciou neste domingo uma agenda de 21 dias de ativismo na luta pela erradicação da violência contra a mulher, a decisão do Tribunal de Justiça atropela uma luta de anos.

"Não basta ter os 21 dias, se ao mesmo tempo que estamos nas ruas protestando e pedindo um basta na violência, somos atropeladas com essa decisão judicial vergonhosa para o Estado de Mato Grosso", disse a vereadora.

Ainda de acordo com Maysa Leão, a prisão domiciliar de Carlinhos é 'um tapa na cara' da sociedade, em particular, em todas as mulheres que há anos lutam exaustivamente pelo seus direitos. Sobretudo, no enfrentamento à violência que tem a mulher como alvo. Em especial, na capital mato-grossense onde os índices de feminicídio figuram como o maior do país.

"Iniciamos uma jornada de 21 dias em feiras, escolas, nas ruas no combate a violência contra meninas e mulheres. Em especial, em Cuiabá, capital campeã brasileira em feminicídios. E observamos a dificuldade da aplicação da lei e de seu rigor em Mato Grosso. Será que outros criminosos, até aqueles que cometeram crimes mais leves do que Carlinhos que praticou um duplo homicídio, teriam este mesmo direito? A gente viu um crime premeditado. Vimos um homem de tocaia esperando Thaís e seu namorado na porta de um prédio e mata-los, por não aceitar o fim do relacionamento Será que todas as pessoas detidas com a mesma condição de saúde do senhor Carlos Bezerra estão em casa. Para gente isso é um tapa na cara".

Campeão nacional em feminicídio, Mato Grosso registrou em 2022, pelo menos 101 assassinatos de mulheres. Deste total, quase a metade foi enquadrado como feminicídio, crime cometido por ódio e ou desprezo à condição de gênero feminino das vítimas, modalidade que está em contínuo crescimento. Em 2021, foram registrados 47 feminicídios em Mato Grosso. Os dados são da SESP-MT.

"A Thays Machado não será esquecida. O Willian Cesar não será esquecido. Carlos Alberto Bezerra os matou porque não aceitava o fim de um relacionamento. Matou a sangue frio. Um crime premeditado e covarde. Ele se achava dono e proprietário daquela mulher [...] Este senhor por ter sobrenome vai pagar o crime, assistindo Netflix em sua Fazenda?” ainda indagou Maysa Leão.

Entenda

Só para rememorar Carlos Alberto Bezerra matou sua ex-companheira, Thays Machado, de 44 anos, e o seu namorado, William Cesar Moreno, de 30 anos, no dia 18 de janeiro em frente ao Edifício Solar Monet, no bairro Alvorada, em Cuiabá. 

Thays Machado e Willian Moreno teriam ido no dia dos assassinatos, ao Edifício Solar Monet para devolver o carro que Thays havia emprestado da mãe para buscar o namorado no aeroporto em Várzea Grande, quando foi baleada e morta junto com William. Ela foi atingida por cerca de três disparos, dois nas costas e um na altura do quadril, vindo a óbito na calçada do edifício, enquanto Willian, mesmo atingido por cerca de três disparos, um no braço esquerdo e dois no peito, ainda tentou fugir do agressor, mas acabou caindo a poucos metros da namorada.

Câmeras de seguranças mostraram que Carlos Alberto Bezerra 'rondava' o prédio desde o início da semana, o que fez a polícia trabalhar com a premeditação dos crimes. Reforça esta tese o Boletim de Ocorrência registrado por Thays ainda no dia de sua morte, quando fez uma ligação para o 190 na madrugada do dia 18 de janeiro, para denunciar que estaria sendo perseguida pelo ex-companheiro e os vários comentários feitos à família que vinha sendo ameaçada de morte. Isto sem falar que este já seria o segundo BO.

E alguns dias mais tarde, em coletiva de imprensa, no dia 30 de janeiro, o delegado Marcel Oliveira, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, deu detalhes mais pormenorizados da 'fixação doentia' do empresário, ao revelar que além de contínuo monitoramento, por meio de um localizador colocado às escondidas no carro dela, igualmente, anotava quando namoravam, cada passo dado por Thays. Registrando-os, inclusive, em um caderno para checagem posterior.

Não bastasse isso, foram encontrados também na residência de Carlinhos Bezerra, após mandado de busca e apreensão em sua casa, no bairro Santa Rosa, mais de 70 prints de localizações da servidora da Justiça. O programa instalado remetia para o seu aparelho celular as geolocalizações, que eram todos impressos.

"Encontramos na casa de Carlos Alberto desde prints até minucioso monitoramento da vítima, como os colégios que ela estava procurando para realizar matrícula, na época, para a sua filha até suas idas à clínicas veterinárias, porque ela[Thays] criava cachorros Golden", disse o delegado à imprensa na época.