Silvinha Mantovani, 42, sempre teve o sonho de conhecer novas culturas e ver o mundo com o seus próprios olhos. Nascida em Lobato, uma cidadezinha no interior do Paraná, assim que terminou a faculdade de Direito, em 2006, decidiu que era o momento perfeito viajar.
Com 28 anos, vendeu o carro e, com o dinheiro, comprou uma passagem de avião, arrumou as malas e partiu rumo a Espanha. "Poderia ter sido qualquer outro país, mas eu fui para Espanha por conta da proximidade do idioma com o português", conta.
A intenção dela, na época, era fazer uma pós-graduação durante dois anos e, na sequência, ficar seis meses na Inglaterra, aperfeiçoando o inglês -- e voltar para o Brasil com um bom currículo e conseguir o emprego que quisesse.
Mas ela não contava que fosse se apaixonar por Barcelona e, também, por um de seus moradores. Silvinha conheceu o antigo companheiro em uma cafeteria da cidade. "Ele se aproximou, pediu meu telefone e começamos a sair. Os primeiros meses foram os melhores, parecia que eu tinha encontrado meu príncipe encantado, a pessoa perfeita, mas era tudo mentira."
Controlador e inseguro
Depois de nove meses juntos, ela conta que o então namorado começou a mostrar ser uma pessoa possessiva, insegura e ciumenta. "Fiquei dois anos e meio tentando me separar. Toda vez que eu falava no assunto, ele fazia alguma coisa para me impedir. Uma vez, caiu desmaiado na minha frente. Chorava, fazia ameaças e sempre prometia que mudaria. E eu ficava."
Depois de quatro anos de relacionamento, Silvinha decidiu que estava na hora de deixar o parceiro. Na véspera de um feriado espanhol, ela o chamou para conversar e disse que não dava mais. Ele se mostrou compressivo e disse que era o melhor, mesmo. Aliviada, Silivinha disse que faria uma viagem no final de semana, mas voltaria para o apartamento que eles dividiam em Barcelona para pegar suas coisas.
"Foi aí que ele trocou as chaves do apartamento e eu não pude entrar, porque, apesar de estarmos morando juntos, o apartamento foi herdado por ele. Fiquei na rua, com apenas uma mala", conta.
Ameaças e saída do país
Os meses seguintes Silvinha considera que foram os piores da vida dela: o ex a procurava e tentava retomar a relação de qualquer jeito. Mas ela estava decidida a não reatar. Quando percebeu que ela não queria mais nada com ele, Silvinha começou a sofrer ameaças.
"Me ligavam de madrugada dizendo que ele iria matar minha família aqui no Brasil, e que me deixaria viva para sofrer a perda da minha mãe e da minha irmã. Entrei em depressão."
Silvinha decidiu sair da Espanha e viajou para Dublim, capital da Irlanda. Pediu para ficar na casa de alguns amigos na cidade. "Fui para lá totalmente destruída. Nem pensei o que faria na Irlanda. Meu medo era me relacionar de novo. Sair desesperada procurando alguém para não ficar sozinha, e não era isso que eu queria. Eu queria cuidar de mim primeiro."
Foi nessa época que leu o livro "Comer, Rezar, Amar" (de Elizabeth Gilbert) e decidiu que queria conhecer Roma, assim como a protagonista da história.
40 países antes do 40 anos
Silvinha foi a Roma e, pelas ruas da cidade italiana, começou a repensar na vida. "Eu tinha 35 anos e precisava me reerguer. Fui na cerimônia que tem às quarta-feiras com o Papa e comecei a pensar: 'O que eu posso fazer por mim que não envolva nenhum homem na parada?'"
Foi quando, sentada em um barzinho, começou a pensar em quantos países ela havia conhecido. "Fiz uma lista no guardanapo foram 12 países. Pensei: 'Vou conhecer 40 países antes do 40'. E comecei minha aventura de viajar pelo mundo, sem a mínima ideia de como eu faria isso."
Para realizar esse sonho, Silvinha pegou todo o dinheiro da poupança, algo em torno de R$ 25 mil, voltou para Irlanda e planejou seu próximo destino: o Marrocos.
Começou a fazer bicos em vários lugares em Dublim para juntar uma graninha extra antes de embarcar para o primeiro destino. "Eu fui para o fundo do poço e, no fundo do posso, encontrei o passaporte -- e esse passaporte mudou minha vida."
A ideia deu certo: Silvinha decidiu se estabelecer na Irlanda e trabalhar por lá para ter dinheiro para viajar. Sempre que podia, embarcava novamente para um novo destino. Hoje, ela contabiliza 59 países e conta suas aventuras no livro "40 antes dos 40 - Um passaporte salvou minha vida", para inspirar a mais pessoas, principalmente as mulheres, a fazer o mesmo.
"Minha dica para quem quer viajar sozinho é bem simples: só vai!", brinca. "Com muito planejamento, você consegue. Mas, se você tem receio, escolha lugares mais seguros para os primeiros destinos. E comece já a sair sem companhia para cinemas, bares e restaurantes, antes de viajar. É uma experiência única e incrível."