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AGRO & ECONOMIA Segunda-feira, 08 de Julho de 2019, 13:02 - A | A

Segunda-feira, 08 de Julho de 2019, 13h:02 - A | A

PRIMEIRO EMPREGO

Primeiro emprego: pesquisa diz que 43% não passam do período de experiência

Despreparo e falta de interesse de empresas em treinar novos funcionários inviabilizam permanência de aspirantes ao primeiro emprego. Pesquisa mostra que 48,3% são desligados da função quando termina o contrato inicial de três meses

Correio Braziliense

Conseguir o primeiro emprego nem sempre significa participação duradoura no mercado de trabalho. Pesquisa da consultoria IDados mostra que o trabalhador iniciante fica, em média, quatro meses na empresa contratante. Praticamente o tempo do contrato de experiência, determinado pela legislação brasileira, de três meses. De acordo com o levantamento, quase metade é desligada depois do período de teste.

 

A pesquisadora e economista Thaís Barcellos, responsável pelo levantamento, afirma que as demissões logo depois do período de experiência ocorrem principalmente por falta de treinamento. “Os empregadores não têm essa cultura de treinar o empregado, que chega despreparado por ser o primeiro emprego. Durante a crise, com mão de obra disponível, o empregador demite o recém-contratado porque acha que consegue achar alguém mais treinado”, explica. Segundo ela, o desligamento precoce é, em parte, benéfico ao contratante, já que ao demitir neste período, o ônus é muito menor.

 

Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques, integrante do Conselho Regional de Economia, três meses é um tempo muito curto para garantir capacitação ao jovem em seu primeiro emprego. “Em geral, a alta rotatividade ocorre ou por falta de preparo dos contratados ou porque é ‘mais barato’ para as empresas”, argumenta.

Seleção

 

De acordo com o levantamento da IData, em 2015, aproximadamente um terço dos desligamentos de primeiro emprego ocorreu pelo fim desse contrato de 90 dias. O saldo subiu para 48,3% em 2017. “No período de teste, assim que o empregador vê que o funcionário não vai dar a resposta que ele precisa, o manda embora e procura outro. É uma questão de mercado. Se não houvesse uma oferta tão grande de mão de obra desqualificada, talvez isso não fosse tão frequente”, justifica Marques.

 

Apesar do tempo médio de permanência no primeiro emprego formal ter aumentado entre 2011 e 2017, de 3,5 meses para 4,3, esse tempo ainda está longe de ser o ideal para que o trabalhador consiga experiência. Com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2011, 2013, 2015 e 2017, a pesquisa da IDados mostra que 23,4% dos desligamentos no período de “teste” ocorrem por demissão sem justa causa, enquanto que 22,2%, por pedido.

 

Débora Dorneles, professora do Departamento de Administração da UnB, explica que as demissões precoces ocorrem porque muitas empresas “não se preocupam em fazer uma seleção efetiva”. Na opinião dela, a rápida saída do empregado e a alta rotatividade não beneficia ninguém. “Isso é negativo, porque a empresa perde tempo, por estar com uma pessoa que não funciona, além de impactar a sociedade, ao desempregar um indivíduo que estava esperançoso pelo primeiro emprego”, diz.