Sexta-feira, 26 de Abril de 2024

ARTIGOS Quinta-feira, 11 de Julho de 2019, 14:01 - A | A

Quinta-feira, 11 de Julho de 2019, 14h:01 - A | A

Relação abusiva, quando o sonho se torna um pesadelo

Sani Neves

Diariamente os noticiários trazem novos casos de violência doméstica e feminicídio que envolvem casais de todos os gêneros, faixas etárias, classes sociais e escolaridades, deixando sempre várias perguntas e muita indignação.

 

A relação abusiva é caracterizada pelo excesso de poder sobre o outro, há um predomínio do controle e imposição de regras que, quando não são cumpridas desencadeiam brigas infindáveis, as declarações de amor são logo substituídas por xingamentos, chantagem emocional e agressão física. As regras normalmente são absurdas, há imposição sobre o que vestir, cerceamento da liberdade, havendo inclusive impedimento de visitas aos amigos e familiares, igrejas ou que trabalhe fora. 

 

Fiscalização em e-mails, celulares e redes sociais são comuns devido à desconfiança constante. As vítimas também podem sofrer abuso financeiro e sexual. Normalmente ocorre o Gaslighting, termo inglês utilizado pela psicologia desde 1960 para descrever situações em que a vítima tem as suas informações desvirtuadas, com o objetivo de levá-la a dúvidar sobre a própria memória, sanidade mental e percepção da realidade... 

 

Logo, acusam as suas vítimas de serem 'loucas', descontroladas, desequilibradas ou excessivamente ciumentas. Por exemplo, se a vítima descobre uma traição ou mentira, e cobra explicações, o outro tenta de todas as formas convencê-la de que ela está equivocada, nada aconteceu e essa acusação seria mais um fruto da sua insanidade! 

 

Ao longo do tempo e com todo sofrimento decorrente das inúmeras situações abusivas e violentas , a vítima vai deixando de acreditar em si, em suas percepções, desconfia da própria capacidade de lidar com a vida e até mesmo das suas habilidades inatas. 

 

Os danos emocionais vão surgindo de forma gradativa, e com menor capacidade de confiar em seus pontos de vistas e em suas qualidades, tornam-se medrosas, inseguras, tristes, com baixa auto estima e confusas. Os danos à saúde mental da vítima podem variar desde o desenvolvimento de transtornos ansiosos, depressivos, à compulsão por comidas, compras ou substância psicoativas. 

 

Em seu livro, Sequestradores de Almas, Guia de Sobrevivência, Ed. Lúmen Júris, a Psicóloga Silvia Malamud, explica o perfil do agressor, e já na apresentação, deixa claro: ' 'Livre-se o mais rápido possível desses lobos em pele de cordeiro; o destino deste tipo de relação invariavelmente é letal.' Já no início do relacionamento, é preciso estar alerta, e não romantizar o controle que parece 'cuidado' no início da relação, pois a tendência é a progressão. 

 

Despertar, sair do ciclo vicioso de brigas e pedidos de perdão seguidas de promessas jamais cumpridas, perceber que a relação idealizada deverá ser desfeita em prol da própria vida, pode ser doloroso mas é possível e quanto mais cedo melhor. Se você ainda tem dúvidas se está em uma relação abusiva, deixo algumas perguntas para a sua reflexão: 

 

- É criticada, julgada e subjugada constantemente? 

- Abre mão das suas opiniões e vontades para evitar conflitos?

- A sua vida parece ter perdido o sentido e você não sabe mais quem é?

- Sente-se aprisionada ao outro, sem forças para tomar decisões?

 

Reflita, e se constatar que está nesta situação é possível que você necessite de ajuda psicológica para relembrar quem você era antes de entrar nesta relação, também poderá ser necessário tratar traumas do passado e ressignificar contextos da sua história de vida que podem ter te levado de forma inconsciente para esse modelo de relação. 

 

Sani Neves. Psicóloga CRP 18/01332. Terapêuta EMDR. Const. Sistêmica Familiar.