Quinta-feira, 09 de Maio de 2024

POLÍTICA Domingo, 21 de Abril de 2019, 13:35 - A | A

Domingo, 21 de Abril de 2019, 13h:35 - A | A

ECONOMIA DO ESTADO

Após dilapidar os cofres do Estado, Silval ataca Mendes sobre empréstimo dolarizado

Ana Adélia Jácomo / O Bom da Notícia

Responsável pela contratação do empréstimo com o Bank Of América em 2012, o ex-governador Silval Barbosa (sem partido) comentou as transações financeiras que foram feitas com a mesma instituição financeira pelo governador Mauro Mendes (PSDB) este ano.

 

Silval foi condenado a 13 anos e sete meses por corrupção e cumpriu quase dois anos de prisão no Centro de Custódia de Cuiabá, sob a acusação de liderar uma organização criminosa que dilapidou os cofres públicos do Estado. Só sendo libertado após delação premiada homologada pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal.

 

Em 2012, no governo de Silval, o Bank Of América financiou US$ 479 milhões de dólares para Mato Grosso, aproximadamente R$ 1 bilhão à época, para reduzir a dívida pública com a União, que era de R$ 5 bilhões. Naquele período, o Estado não tinha margem de crédito junto aos bancos federais.

 

“Nem vocês [a imprensa] conhecem. Só falam sem conhecer profundamente. A imprensa nunca procurou saber como é a transação com o banco e todos esses que eram do governo anterior criticavam por desconhecer, ou por maldade. Quando eu fiz a negociação da dívida, que era os resíduos, ela travava 15% da receita líquida. Eu pagava por ano 1,2 bilhão”, disse Silval.

 

“Vocês vão levantar? Vocês não têm essa preocupação de levantar, apenas falam que Silval inviabilizou o Estado. Quando, na verdade, eu destravei começou a valer os contratos, que é o percentual que não chegava nem a 8%. Depois, passou a pagar R$ 600 milhões por mês, ao invés de 1,2 bilhão. É isso que foi negociado”, se defendeu ele.

 

A amortização de R$ 1 bilhão junto ao governo federal foi o que permitiu ao Estado poder contratar financiamento para as obras da Copa de 2014 e de infraestrutura. Entre as consequências negativas está o rombo bilionário com a compra do VLT, que até hoje não saiu do papel, mas que, na época, Silval chegou a convocar a imprensa para um passeio no novo modal. Hoje, os vagões estão abandonados e o projeto não tem previsão para ser concluído.

 

“Nós só fizemos dolarizado porque achamos só o Bank Of America que operou e era nesse sistema. Eu não peguei um centavo. Foi direto pra União, para pagar os resíduos. Então, isso foi super viável. Quem critica é porque não conhece. A variação do dólar existe para qualquer um que faz negócio. E coloquei uma cláusula, que quando o Estado não aguentasse mais pagar comprava de volta e ia em outra moeda, outro indexador. O que o Mauro fez também não é problema meu”, disparou Silval. 

 

NOVO EMPRÉSTIMO 

 

O governador Mauro Mendes contraiu um empréstimo de US$ 332 milhões, cerca de R$ 1,2 bilhão em reais, junto ao Bird (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento). A previsão é que o montante esteja disponível para aplicações no mês de julho.

 

O“Nós só fizemos dolarizado porque achamos só o Bank Of America que operou e era nesse sistema. Eu não peguei um centavo. (...) O que o Mauro fez também não é problema meu

Mendes solicitou a quantia por acreditar que o empréstimo vai trazer um alívio no fluxo de caixa em um curto espaço de tempo, o que propiciará o pagamento de fornecedores e servidores. Além disso, ele prometeu quitar a dívida com o banco americano Bank Of América. 

 

O Executivo quer quitar com o banco americano e alongar as demais prestações para mais 20 anos, acrescentando quase R$ 350 milhões a mais na dívida, agora com o anco Mundial, que tem hoje um valor total de R$ 270 milhões, a uma taxa de juros de 3,5%. A ideia é que em quatro anos o Estado tenha uma economia de quase R$ 800 milhões.

 

EX-GOVERNADOR PRESO

 

Esta entrevista foi dada nesta semana após audiência no Fórum de Cuiabá. Silval deixou o Paiaguás em 2015 e acabou condenado poucos meses depois a 13 anos e sete meses de prisão. Ele é acusado de liderar uma organização criminosa que desviou mais de R$ 2,5 milhões dos cofres públicos por meio da concessão fraudulenta de incentivos fiscais a empresários por meio do Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso (Prodeic).

 

No acordo de delação premiada, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux sentenciou Silval em 20 anos de prisão divididos em 3 anos e 5 meses de prisão domiciliar, 2 anos e 5 meses no regime semiaberto diferenciado com tornozeleira eletrônica e recolhimento na residência no período compreendido entre 22h e 6h durante os dias úteis da semana, finais de semana e feriados.

 

Já o restante da pena foi estabelecido em regime aberto diferenciado, sem tornozeleira eletrônica, devendo comparecer mensalmente ao juízo da Execução Penal para justificar atividades e endereço. Além do ex-governador de Mato Grosso, firmaram acordo de delação a esposa Roseli Barbosa, o filho Rodrigo Barbosa, o irmão Antônio Barbosa e o ex-chefe de gabinete, Sílvio Corrêa. Cada um deles se comprometeu a colaborar com as autoridades e a devolver valores milionários aos cofres públicos estaduais. Ao todo, Silval e família devolveram mais de R$ 70 milhões.