“Vivo os 12 meses do ano como Papai Noel, mesmo que eu corte a barba e o cabelo, já não existe mais separação entre minha identidade e o da figura natalina”, diz o historiador, Clóvis Matos, de 66 anos, o Papai Noel mais famoso de Mato Grosso, em particular, Cuiabá.
Conhecido como Papai Noel Pantaneiro, ele é, literalmente, um dos ícones mais amados da cuiabania. E por conta de sua kombi que carrega milhares de livros à estudantes - de forma itinerante - por todo Mato Grosso, Clóvis ganhou notoriedade nacional após passar no Caldeirão do Huck, em 2017.
O historiador conta que desde a sua adolescência sempre manteve o cabelo e barba grandes, e que já chegou a ficar sem este 'visual' durante dois dias, e não se reconheceu.
“Uma vez fiquei por dois dias com a barba e o cabelo cortados, mas não me reconheci e voltei a deixar crescer. Tenho mantido a barba e cabelo da mesma forma, desde os meus 16 anos, e em Cuiabá ninguém me reconhece sem barba”, diz Clóvis
“Muita gente se interessava e não comprava, muitos liam até o livro inteiro, mas não compravam
Em 2002, Clóvis Matos trabalhava na área de marketing, dentro da Livraria Adeptus, no Shopping Três Américas, em Cuiabá. Lá sua principal função era criar ambientes para vender livros. Sendo assim, Clóvis criou um espaço de leitura dentro da livraria com a esperança de que as pessoas lessem um pouco, se interessassem pelo que estavam lendo e comprassem o livro.
“Muita gente se interessava e não comprava, muitos liam até o livro inteiro, mas não compravam”, conta.
Ao serem questionados sobre o porquê de não comprar o livro, a maioria das pessoas respondia da mesma forma: “não tenho dinheiro”. “Uma pessoa que frequenta um shopping center não tem dinheiro para comprar um livro, imagina quem mora na zona rural, em lugares de difícil acesso”, concluiu Clóvis.
O historiador diz que durante o tempo que trabalhou na livraria, o marketing do shopping, o convidou para caracterizar-se como Papai Noel do centro comercial, mas ele recusou durante três anos. Em 2005, ao perceber a dificuldade da população em conseguir adquirir livros na livraria em que trabalhava, Clóvis decidiu criar o projeto “Inclusão Literária", e começou a distribuir livros de forma gratuita para pessoas em vulnerabilidade social, assim incentivando a leitura. E para financiar a sua idealização, aceitou tornar-se Papai Noel do Shopping 3 Américas.
“O marketing do shopping no ano de 2002, me avistou trabalhando na livraria, então me convidou para fazer o papel de Papai Noel, e durante três anos recusei o convite. Na época não havia ninguém que se vestia originalmente como Papai Noel. Mas ao perceber que muitas pessoas que frequentava a livraria e não compravam os livros, por serem muito caros, no dia 19 de novembro de 2005, decidi criar o projeto Inclusão Literária, com os meus próprios livros pessoais, e para financiar aceitei me tornar o Papai Noel do shopping center”, revela Clóvis
Segundo Clóvis, o projeto Inclusão Literária foi idealizado para suprir a necessidade de leitura das pessoas que não tinham a oportunidade de adquirir livros. Revelando que foi através do projeto que surgiu o personagem Papai Noel Pantaneiro, em que ele leva presentes e doações para crianças e famílias ribeirinhas do Pantanal Mato-grossense.
Mas, pela primeira vez em 15 anos, o historiador se viu obrigado a afastar-se de seu personagem e de seu projeto por conta da pandemia da Covid-19, afinal, a idade o colocava na faixa etária de risco.
Porém, o isolamento não conseguiu parar o incentivador da leitura. Clóvis deu um jeito de que seu projeto - Inclusão Literária -, continuasse, mesmo com ele à distância. E conta, orgulhoso, que durante esse período foram distribuídos mais de 500 mil livros. O projeto do Papai Noel Pantaneiro foi mais complicado, ainda mais que, diante da pandemia, Clóvis nem mesmo podia ir participar, mas não deixou de existir, pois voluntários levaram os presentes e as doações até as famílias.
“Por conta da pandemia precisei me afastar de todos os meus projetos, mas por incrível que pareça foi a época que o projeto Inclusão Literária mais foi procurado. As pessoas me ligavam pedindo livros, e como um bom incentivador, eu os deixava na porta de casa dentro de caixas e dizia que podiam ir buscar. E durante este 1 ano e 9 meses de pandemia foi distribuído 500 mil livros”, informa Clóvis
O projeto Inclusão Literária sobrevive de doações, feiras de vendas de livros a valores simbólicos e ainda conta com a ajuda financeira do Grupo Energisa, desde 2017, e da Associação das Mulheres de Negócio e Profissionais de Cuiabá (BPW- Cuiabá - Business Professional Women), que tem como presidente, a Senhora Zilda Zompero (Eletro Fios).
Clóvis anunciou que este ano a Energisa também patrocinará parte dos gastos com o segundo projeto, Papai Noel Pantaneiro, inclusive, com 200 kits de materiais escolares, que serão entregues para as crianças ribeirinhas. A empresa Eletro Fios, também apoia os projetos, sendo ponto de coleta de doações de livros e também fazem a doação de presentes.
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