Durante sessão ordinária desta quinta-feira (18), a vereadora Edna Sampaio (PT), repudiou a comparação sobre a gestação de mulheres à das vacas e galinhas realizada pelo deputado estadual, Gilberto Cattani (PL), ao ir contra regras na constituição que legaliza o aborto no Brasil, durante abertura da reunião da Frente Parlamentar de Combate ao Aborto - Pró-Vida, na Assembleia Legilativa de Mato Grosso (ALMT).
Enfatizando que todas as mulheres merecem respeito, a vereadora petista salientou que discursos motivados por ‘questões ideológicas não podem ser naturalizados’ nos plenários mato-grossenses.
“Quero lamentar a frase infeliz do deputado Cattani, sobre comparar a gestação das mulheres com vacas, ao defender luta pela vida e se posicionar contra o aborto. Nada contra as vacas, são animais maravilhosos que sacrificam suas vidas para nos fornecer proteína, mas que acho que as mulheres merecem respeito, principalmente às milhares de mulheres que passam pelo aborto nesse país, sem qualquer regulamentação, em clínicas completamente ilegais, correndo risco de vida. Ou seja, essa questão não pode ser tratada desta maneira, precisamos tratar com o respeito a dor dessas mulheres e tratar com respeito a saúde pública. Não podemos admitir que ocorra esses tipos de falas dentro de uma Casa de Leis, principalmente, por questões ideológicas. Todas as mulheres merecem respeito, não podemos naturalizar esse tipo de fala nos espaços parlamentares’, disse
Além da vereadora petista, o posicionamento do parlamentar estadual causou indignação em grupos de Whatsapp, em especial, nos grupos de jornalistas e nos coletivos que realizam defesa aos direitos da mulher, principalmente, pelo fato do deputado presidir a Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Amparo à Criança, ao Adolescente e ao Idoso e, igualmente, comandar a Comissão pela Defesa dos Direitos da Mulher, na Assembleia Legislativa.
De acordo com a advogada de Mulheres, Bárbara Lenza Lana, é por conta de falas tão desconexas desvelam uma fala carregada de preconceito, como forma de apequenar a trajetória feminina, apesar de estarmos no século 21, a coisificação ou animalização das mulheres. Ao ainda pedir que a sociedade civil fique sempre em alerta diante destas narrativas - que travestidas de defesa a um tema -, subvertem conceitualmente outras.
"Mulheres não são vacas, são pessoas. São seres humanos destinatários de direitos, sobretudo, de existir e de se fazer respeitar. Aliás, direito, como o passaporte mais seguro para se conviver em uma sociedade, sem correr o risco de macular a frágil civilidade que hoje habita dentro de muitos de nós".
Entenda
O deputado estadual Gilberto Cattani (PL) comparou a gestação de mulheres à das vacas durante reunião de abertura da Frente Parlamentar de Combate ao Aborto - Pró-Vida, na manhã desta quarta-feira (17).
A Comissão foi instalada na tarde de segunda-feira (15), por deputados que compõem a bancada conservadora da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. O grupo, intutulado “pró-vida” pelos próprios integrantes, é composto apenas por deputados homens - 7 no total -, e é comandado pelo parlamentar Cláudio Ferreira (PTB), que como Cattani, foi eleito sob a bandeira do bolsonarismo.
Além de condenar o aborto e comparar mulher com vacas, o parlamentar também atacou o movimento feminista.
“Quando a minha vaca entra no cio, está no período fertil e o touro cobre a minha vaca, é assim que a gente fala lá na roça, então ela tá prenha, certo? Isso é natural”, iniciou. “Agora, eu pergunto para qualquer pessoa: o que é que tem na barriga da minha vaca? Se você pedir para essas feministas, ou para essas pessoas que defendem o assassinato de bebês no ventre da sua mãe, eles vão dizer que lá tem um feto, não um bezerro, assim como elas falam da mulher. Eles usam a palavra feto para desmerecer aquela criança que está ali” continuou.
O vídeo está disponível no canal da TV Assembleia no YouTube
Cattani continua e chega a dizer que Estado não dispõe de políticas públicas para prevenir casos de aborto, mas incentiva a destruição de famílias. “Ele tem o contrário, ele tem políticas públicas para destruir a família". “Por exemplo, se a minha filha de 12 anos receber no colégio a doação de uma camisinha para ela se prevenir, o que as pessoas estão oferecendo para minha filha? Não tem outra coisa”, diz, insinuar que é sexo. “Ela vai achar que pode fazer a vontade, que não tem problema nenhum”.
Gilberto Cattani é presidente da Comissão de Direitos Humanos, Defesa dos Direitos da Mulher, Cidadania e Amparo à Criança, ao Adolescente e ao Idoso da Assembleia Legislativa de Mato Grosso