As eleições que serão realizadas agora em 15 de novembro, ocorrem em um momento de bastante atipicidade, por conta da pandemia da covid-19, mas trazem, igualmente, outras excepcionalidades. Algumas bem interessantes, como o surgimento de novas caras dentro do cenário político, prometendo estratégias mais modernas, em particular, em Mato Grosso, nas disputas municipais.
Dentre elas, está o professor Lennon Ferreira Corezomaé, de 30 anos, um índio da etnia Umutina-Balatiponé que colocou seu nome na disputa à uma vaga na Câmara de Vereadores de Barra do Bugres (180 km de Cuiabá).
Estreante no processo político-eleitoral, o professor foi escolhido em assembleia realizada no território indígena Umutina-Balatiponé e, assim, colocando o seu nome à disposição pelo Podemos.
Lennon é da Aldeia Central do território Umutina, que fica próximo ao município de Barra do Bugres. Ele também é o primeiro indígena a cursar um mestrado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Após concluir o curso de Licenciatura em Educação Física na universidade, sendo aprovado logo em seguida para uma pós-graduação em Educação.
O indígena leva na sua luta eleitoral, claro, pautas comuns às reivindicações de índios de várias etnias, assim, de olho em manter suas raízes, apesar da sua vivência nos centros urbanos.
Corozomaé passou em primeiro lugar em um concurso e, atualmente, é professor da rede pública no município.
Em conversa com a reportagem do O Bom da Notícia, o candidato assegurou que a bandeira que tem levantado é a do servidor público, além das pautas indígenas. Isso porque, conviveu com a dificuldade que um professor tem na rede pública. Lennon ainda pontuou quais requisitos deveriam ser mudados na Casa de Leis. Como, por exemplo, a não reeleição para o mesmo cargo e a exigência de um grau superior para concorrer a qualquer cargo no legislativo ou executivo.
Estreante no processo político-eleitoral, o professor Lennon Ferreira Corezomaé, de 30 anos, vem de linhagem indígena pura e foi escolhido em assembleia a partir de uma reunião interna no território indígena Umutina-Balatiponé para se candidatar a vereador
Foto: Reprodução
O candidato Lennon é pertencente ao povo da Aldeia Central do território Umutina, que fica próximo ao município de Barra do Bugres e também o primeiro indígena a cursar um mestrado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
De acordo com o candidato, nos últimos quatro anos, os representantes da Câmara Municipal de Barra do Bugres não têm realizado o trabalho básico na Casa de Leis. Como o poder da fiscalização das secretarias, do município e do Executivo.
“Há vários relatos que acontecem de improbidades, mas não são denunciadas pelos próprios vereadores. Fora isso, tem a questão da má utilização da máquina pública. Ao ver dos vereadores, a cidade está funcionando perfeitamente, sem denúncias e sem cobranças. E esse é o problema em que mais perdemos, porque se não há fiscalização a gestão executiva trabalha da forma como deseja”, pontua o candidato.
Para Lennon, a mudança é simples. Basta os parlamentares cumprirem suas funções, que é fiscalizar as obras do município, dos recursos que são gastos, das contratações, licitações. Além de elaborar melhor o planejamento anual.
Ainda em relação às articulações políticas ele, enquanto professor e indígena, irá defender o concurso municipal, para que seja efetivado. Defendendo, inclusive, a importância do reajuste salarial aos professores. “Isso é um papel da fiscalização dos vereadores, junto com a Secretaria de Educação e Conselho Municipal de Educação. Último concurso municipal foi em 2007, então ele tem que ser realizado urgentemente. Há em torno de 100 vagas em abertas dentro do nosso município. Por isso a importância da defesa do reajuste salarial também dos professores que não tem acontecido dentro dos municípios", diz.
Já para o povo da zona rural, Lennon afirma a importância de focar na fiscalização e compromisso na tentativa de alavancar a produção agrícola. “Temos a necessidade e o trabalho de conquistar o ICMS ecológico, da maneira como ele está em lei, que ele seja aplicado no território Umutina. Vamos trabalhar também pela roça mecanizada dentro do nosso território, para que nossos jovens possam ter renda e trabalho dentro da Aldeia. Além de várias outras propostas. Como, por exemplo, a do saneamento básico”, conta.
O professor ainda explica que não tem uma certa ferramenta digital para cristalizar sua imagem e assegurar votos nestas eleições. Contudo, acredita que a principal ferramenta é a sua própria vitrine, assim, seu desempenho no trabalho.
“O reconhecimento da cidade foi muito grande ao ver um indígena desempenhando um trabalho com qualidade, dentro dos municípios, de igual para igual, com todos os professores, com responsabilidade respeito e ética. Essa está sendo uma vitrine muito importante para as pessoas. Por mais que tenha o melhor marketing político, mas se todas as pessoas do município te conhecem, saberão que o marketing não vale de nada”, finaliza.