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ARTIGOS Segunda-feira, 06 de Fevereiro de 2023, 08:09 - A | A

Segunda-feira, 06 de Fevereiro de 2023, 08h:09 - A | A

Gabriel Novis Neves

Os pitorescos 61

Gabriel Novis Neves

Bem antigamente as famílias eram numerosas e os casais tinham muitos filhos.

Meus avós paternos tiveram catorze filhos, os maternos oito, os meus pais nove.

As crianças eram criadas nos casarões imperiais, muitos com sobrado, quintais com árvores frutíferas, com portão para uma rua paralela à entrada principal da casa de muitos cômodos.

Os filhos mais velhos ajudavam na criação dos mais novos.

As casas passavam o dia todo com portas e janelas abertas, tudo era muito perto, não havia ladrões, assassinos, estupradores.

Aqueles que concluíam o ensino médio, e suas famílias possuíam condições econômicas, procuravam Salvador e Rio de Janeiro para prosseguirem seus estudos.

Os carentes economicamente que desejassem continuar os estudos ingressavam no seminário para formação religiosa ou no colégio militar, pois, além dos estudos, tinham casa, comida e emprego após terminarem os seus cursos.

Da velha geração que procurou o colégio militar, lembro-me do Marechal Rondon e General Eurico Gaspar Dutra, que em 1945 se elegeu Presidente da República.

Aqueles que ingressaram no seminário e depois abandonaram a carreira do sacerdócio, alguns se tornaram professores, diplomatas, juristas, políticos e funcionários graduados dos governos.

Antigamente tudo parecia mais simples e necessitava-se de poucos recursos financeiros para viver bem, em conato permanente com a natureza sem poluição do ar e outras invencionices da modernidade.

As mulheres eram ocupadas nas tarefas de casa, cresciam e casavam para procriar e eram muito felizes.

As solteironas cuidavam dos seus irmãos menores e sobrinhos, que as chamavam de dindinhas.

Nos casarões antigos a comida era farta para todos da casa e visitas de última hora.

Os lanches da tarde eram inesquecíveis e eram chamados de merenda.

Hoje merenda é propina, filha da corrupção.

As visitas diárias de familiares, amigos e vizinhos eram recebidas com suco de frutas naturais, cafezinho, guaranazinho ralado em casa com os inesquecíveis bolinhos, como o francisquito.

Naquela época havia fartura em tudo, e ninguém acumulava fortuna.

Todos estavam no mesmo barco e não se pensava em globalização - somos vizinhos de toda a população do universo.

Não tínhamos informações dos povos do mundo, portanto, menos preocupações.

Eu vivi um pouquinho esse passado. Viver era uma tranquilidade e um sonho. Hoje é um pesadelo permanente.

Bem antigamente existia só um tipo de casamento, que era de um homem e uma mulher, sempre com finalidade de perpetuar a espécie e o casal aproveitava para deixar muitas sementes.

Antigamente, a partir da puberdade, os jovens só pensavam naquilo e casados só faziam aquilo.

As jovens daquela época só menstruavam a primeira vez na vida quando a natureza avisava que ela já podia reproduzir.

Engravidavam durante nove meses, período em que a mulher não menstrua.

Em seguida o aleitamento sem menstruação, mas em que é possível a ovulação, por conseguinte, o engravidamento.

Uma mulher com quinze filhos tem essa possibilidade, pois quando nasce o seu caçula, provavelmente estará na menopausa.

Na Cuiabá de hoje as mulheres têm um ou dois filhos, quando nenhum.

Elas exercem profissões liberais, e algumas são obrigadas ao trabalho fora de casa para ajudar os maridos, e muitas vezes são as provedoras majoritárias do lar.

Surgiu a profissão de babás, que são especialistas em cuidar de crianças.

Se a família atual tiver duas crianças, poderá ter duas babás.

Esse mercado de trabalho está cada vez mais ativo.

É um dos empregos domésticos melhor remunerados.

Mesmo com a evolução da sociedade está muito difícil de se viver.

Atualmente, só os menos favorecidos economicamente têm famílias numerosas, com mais de três filhos.

As mulheres jovens atualmente têm acesso a ligadura das trompas, e nas de classe social mais abastadas, os homens fazem vasectomia.

Outras inúmeras formas de casais não se reproduzem, e para ficarem bem diante da sociedade, adotam uma criança para criar.

Bem antigamente as famílias eram numerosas.

Hoje em Cuiabá as famílias são formadas na maioria das vezes por pais e uma criança.

Gabriel Novis Neves