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CIDADES Sexta-feira, 20 de Setembro de 2019, 23:01 - A | A

Sexta-feira, 20 de Setembro de 2019, 23h:01 - A | A

INSUBORDINAÇÃO POÉTICA

Artistas 'subvertem a ordem', colam cartazes e fazem uma panfletagem poética por Cuiabá

Marisa Batalha - O Bom da Notícia

(Foto: ilustração)

Procura-se 3.jpg

 

Um grupo de artistas fizeram nesta sexta-feira (20), uma grande panfletagem poética por Cuiabá, colocando cartazes de escritores e poetas mato-grossenses, conhecidos pela excelência de seus trabalhos. Uma ação inusitada para chamar a atenção para a ausência da literatura nas escolas e na vida cultural do Estado.

 

A ideia, de acordo com o escritor e jurista Eduardo Mahon, editor-geral da Revista Literária Pixé, é despertar, inicialmente a curiosidade, estimulando as pessoas a interpretarem sobre 'do que se trata, de fato, a ação'.

 

Intervenções que possam, inclusive, serem observadas como um ato de insubordinação intelectual.

 

Sob o olhar de que a invasão dos espaços públicos, por meio da arte, bem para além do diálogo de adentramento ao plano diretor de uma cidade, muito antes, busca abrir uma discussão mais séria sobre as políticas públicas culturais.

 

Assim, sob esta ideia da subversão intelecutal, a panfletagem ganhe [res]significação e passe pelo debate sobre um 'procurar sob um triplo sentido: caça desejo e falta'.

 

"E sob este olhar, construir ou pelo menos estimular ou torcer, que a intervenção seja capaz de gestar uma discussão mais ampliada sobre como os gestores aplicam os recursos na área cultural. Entendendo este processo em sua imensa pluralidade e, sobretudo, o quanto eles investem nesta multidimensionalidade artística", ainda diz o escritor.

 

Desta forma 'sendo procurados' porque estamos no período de repressão, de patrulhamento ideológico. Mas, igualmente, sendo procurados, porque nós somos queridos. Valendo assim lembrar que os autores mato-grossense têm sido super bem recebidos nas escolas e nas universidades

"Desta forma 'sendo procurados' porque estamos no período de repressão, de patrulhamento ideológico. Mas, igualmente, sendo procurados, porque nós somos queridos. Valendo assim lembrar que os autores mato-grossense têm sido super bem recebidos nas escolas, nas universidades. Por esta moçada de 5 anos, de 8 anos, de 15 anos. Ou por estas moças e rapazes que estão aí lutando para entrarem nas faculdades e, assim, buscando conhecer um pouco mais sobre o nosso cotidiano cultural".

 

Mas há um viés, também de acordo com Eduardo Mahon, inclusive, anteriormente pensado, quando da elaboração e das estratégias desta divulgação sobre os saberes dos escritores mato-grossenses, colocados à disposição da intervenção. A constatação de que há um número elevado de pessoas que acreditaram que os rostos naqueles cartazes, com a frase 'Procura-se', eram literalmente 'procurados'.

 

"Desvelando um tempo sombrio, de dias tenebrosos, do ponto de vista dos radicalismos e ainda sobre a nossa incapacidade interpretativa. E que podem resultar, paralelamente, em outra discussão bem menos poética ou literária. A de que haja crítica que a ação possa ser  vista como um ato de pichação, de vandalismo. Então toda a intervenção está sendo filmada e deverá se transformar em um documentário".

 

"Estamos preparados, inclusive, para críticas de que a intervenção possa ser observada como pichação. Que estamos sujando a cidade. Não tem problema, bem ao contrário, pois abre um debate interessante. Afinal, estamos realizando uma provocação estética e semântica, além de se configurar em uma intervenção na dura linguagem urbana. Se, de um lado, vivemos sob a égide da perseguição ao humanismo como expressão livre, por outro, escritores são procurados para nos salvar desse opaco período cultural".

 

E citando um trecho do artigo - Procura-se -, Mahon lembra que procura-se "porque os intelectuais estão sendo caçados. Procura-se porque deseja-se encontrar. Procura-se também porque se quer conhecer. Esse triplo significado está na nossa paródia das antigas recompensas que se ofereciam pela cabeça dos fora-da-lei. Nós, escritores, estamos nos sentindo perseguidos nesse sentido polifônico: repressão e desejo. Desde quando esses sentimentos deixaram de andar juntos? Procura-se. Querem nos conhecer. Há gente fazendo literatura de qualidade. O que falta é espaço, circulação, oportunidade. Até mesmo nos ambientes em que seria previsível valorizar escritores, estamos nós arrostados por outras letras. Procura-se. Do poder público, as verbas minguadas formam uma colcha de retalhos tão curta quanto inútil. Enfim, procura-se".