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CIDADES Quarta-feira, 16 de Outubro de 2019, 10:41 - A | A

Quarta-feira, 16 de Outubro de 2019, 10h:41 - A | A

DIAS SOMBRIOS

Associação repudia violência contra professora da Unemat

O Bom da Notícia

(Foto: Vídeo/Ilustração)

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A Associação dos Docentes da Unemat 'largou' um nota de esclarecimento, como forma de repudiar a truculência de policiais, populares e o pároco da igreja católica de Campos de Júlio (distante 550 quilômetros de Cuiabá), conhecido como Frei Sojinha, que no último domingo (13), submeteram a professora Lisanil da Conceição Patrocínio Pereira, da Universidade do Estado de Mato Grosso [Unemat], a uma série de violência física e moral, após um protesto da docente contra o presidente da República, Jair Bolsonaro(PSL), em um almoço beneficente no salão paroquial da cidade.

 

A professora - que estava vestida com uma camiseta “Lute como uma Garota” e na lateral “Lula Livre” - foi arrancada do palco e carregada por seguranças, que ergueram-na à força, expondo-lhe as pernas e roupas íntimas, para depois ser algemada por policiais militares e levada para a delegacia de Campos de Julio, de onde só saiu depois que sua fiança foi paga pela direção da Adunemat.

 

Lisanil estava no salão paroquial, onde estava boa parte da sociedade católica do lugar. Já em sua chegada foi olhada com estranheza - de acordo com a nota da Adunemat - por comta de sua orientação política, estampada na camiseta.

 

Assim, quando a professora subiu ao palco, num impulso de reivindicar músicas mato-grossenses, teria incomodado os organizadores da festa e o pároco, conhecido como Frei Sojinha, resolveu chamar a polícia para que tirasse a professora do palco. Imediatamente, quase uma dezena de homens apareceu para deter a professora e levá-la a força para fora daquele lugar.

 

Uma situação que teria piorado, de acordo com a própria vítima, que contou ter sido provocada por participantes bolsonaristas e que, assim, teria resolvido realizar um protesto silencioso e pacífico contra o governo federal. Quando foi retirada à força do palco onde havia subido.

 

As agressões foram gravadas em um vídeo que acabou viralizando nas redes sociais e, em particular, no aplicativo WhatsApp. Nas imagens é possível ver o momento em que a professora aparece no palco abrindo os braços horizontalmente, de um lado para o outro, próxima a um cartaz. Alguns segundos se passam e chegam vários homens, todos de camisetas vermelhas, como se fossem do Corpo de Bombeiros. Eles passam a tentar obrigá-la a parar os movimentos à força. E ela[Lizanil]] até tenta mas, sem sucesso, se defender, mas segura por pelo menos sete homens, a professora da Unemat acaba carregada pelos braços e pernas. Sob comentários de algumas pessoas que estavam no salão sem acreditar que estariam assistindo àqueela cena bizarra. "E outras que gritavam palavras de baixo calão contra a professora e filmavam tudo.

 

Lisanil é professora da Unemat há mais de 15 anos, lotada no Campus de Juara. E, segundo amigos e a presidente da Adunemat, Edna Sampaio, estaria muito muito abatida.

 

As agressões foram repercutidas em alguns sites da região e de acordo com a presidente da associação, alguns membros da Adunemat foram ao local para levantar de forma mais pormenorizada o que, de fato, ocorreu no salão paroquial.

 

"Queremos colher o depoimento das pessoas para saber exatamente o que aconteceu. Ela é uma pessoa muito combativa, muito militante, que não abdica de sua posição política e parece que até as condições de aula para ela foram complicadas por causa das divergências políticas e as pessoas já tinham o perfil dela pesquisado antes mesmo dela vir pra sala e aí ela ficou um pouco pressionada, o que talvez tenha levado a um quadro de descompensação emocional".

 

A professora depois de chegar algemada na delegacia, segundo algumas testemunhas, ainda foi levada a um hospital, onde lhe aplicaram um tranquilizantes. Depois foi fichada por desacato à autoridade e resistência, conforme escrito no documento de soltura.

 

Como forma de mostrar seu repúdio, a Associação dos Docentes da Unemat, Seção Sindical-SN, veio a público nesta última terça-feira (15), data em que se comemora o Dia dos Professores, para apontar o 'absurdo'. A professora ministrava aulas na turma especial de Direito da Unemat, desde o dia 06 de outubro. E segundo a nota da Adunemat,"já em sua chegada para ministrar as aulas de economia política, foi recepcionada por estudantes que pesquisaram sua vida pelo facebook e, apresentaram animosidade em razão de sua orientação política de esquerda, conforme relatos de pessoas que conviveram com ela naquele curso".

 

A truculência do ato, ainda de acordo com a nota, "própria dos fascistas", é também revela "quando vários homens a arrancam do palco e a arrastam escada abaixo, deixando à mostra suas partes intimas".

 

"Deixada ao chão por um instante e, posteriormente, levada à delegacia algemada com mãos para trás do corpo. Como se debatia muito, revoltada com a situação, foi levada ao hospital onde injetaram tranquilizantes que a fizeram ficar sem condições de ser ouvida pela delegada, obrigando-a passar a noite numa cela onde a fossa séptica aberta estava ao lado o fino colchão onde iria dormir. Mas que crime a professora cometeu? Que periculosidade tinha uma mulher sozinha, desarmada e sem qualquer habilidade física para enfrentar os brutamontes que a atacaram? O que justificou tamanha violência senão o ódio às mulheres consideradas perigosas por serem autônomas e por terem posição política e a coragem de enfrentar um estado ainda patriarcal e violento?" ainda aponta a Adunemat. (Veja abaixo a nota na íntegra)

 

A Adunemat ainda assegura que não se calará diante do fascismo crescente que avança no interior de Mato Grosso e em todo Brasil.

 

" Essas pessoas desconhecem qualquer sombra de civilidade, de respeito à diversidade e, por isso, não conseguem compreender o sentido de uma Universidade, constituída de múltiplos olhares e sentidos, de visões políticas e de mundo, todas necessárias e merecedoras de respeito e convivência pacífica. O risco que esses fascistas impõem à Universidade é sua destruição, pelo silenciamento, pela tentativa de destruir qualquer traço de autonomia de pensamento, de ideias, o ódio ao conhecimento e o elogio à ignorância e à brutalidade".

 

Veja nota na integra AQUI