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POLÍTICA Quarta-feira, 17 de Julho de 2019, 19:10 - A | A

Quarta-feira, 17 de Julho de 2019, 19h:10 - A | A

GRAMPOLÂNDIA PANTANEIRA

Cabo diz que Gaeco queria "bisbilhotar" Silval e Filadelfo após ameaça a Selma

Alexandra Freire e Rafael Medeiros

Reprodução

juiza selma arruda, coletiva,

 

O juiz Marcos Faleiros da Silva, da 11ª Vara Criminal Especializada em Justiça Militar, retomou nesta quarta-feira (17), a audiência para ouvir os militares que são investigados no processo referente aos grampos telefônicos ilegais ocorridos no Estado. Nacionalmente, o episódio ficou conhecido como ‘grampolândia pantaneira’.

 

Foi ouvido hoje, durante toda a tarde, o cabo da Polícia Militar, Gerson Corrêa Júnior, que já algum tempo vinha prometendo, em conversa com jornalistas e por meio de sua defesa, relatar fatos novos sobre as escutas telefônicas realizadas no governo dde Pedro Taques(PSDB).

 

Em seu reiterrogatótio, Gerson cita o forte empenho do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) para usar a ameaça de morte contra a então juíza Selma Arruda (atual senadora por Mato Grosso, pelo PSL) para “bisbilhotar” a vida do ex-governador Silval Barbosa e de Filadelfo Dias, conhecido como “novo arcanjo”.

 

“No meu segundo interrogatório, falei superficialmente sobre porque que foi realizada uma investigação para dar suporte a uma suposta ameaça à integridade física da ex-juíza Selma Rosane Arruda. Narrei aqui, lógico, superficialmente, a espera que o Ministério Público instalasse algum procedimento investigatório nesse sentido, mas o que o doutor Domingo Savio (coordenador do Naco), disse que é fato requentado, relatei há um ano [...] Então se isto era fato requentado, porque não foi instaurado nenhuma medida investigativa sobre ele?. Por este motivo não deixaria de forma alguma de falar sobre esse fato, que remetem a barriga de aluguel dentro do Gaeco”, pontuou Gerson.

 

O cabo narra que no segundo semestre do ano de 2015 chegou ao conhecimento da magistrada Selma [na época], notícias dando conta que estava em curso uma ação criminosa com intenção de “promover a extinção da vida” de Selma. Diante da gravidade dos fatos, a juíza buscou socorrer de tais cogitações junto ao Gaeco. Inicialmente, procedeu-se uma visita ao então coordenador do Gaeco, Marco Aurélio para reportar os fatos.

 

Ainda conforme Gerson, sequencialmente o coordenador do Gaeco teria determinado ao policial que procurasse pessoalmente a magistrada em seu gabinete com o propósito preliminar de levantar os dados informacionais que levassem a esse fato criminoso.

 

“Isso a doutora Selma confirmou aqui, quando estive no gabinete dela para tratar desses fatos. Arrolada, inclusive, mais tarde como minha testemunha. Diante dos dados colhidos a pedido do promotor de justiça, foi realizado um minucioso relatório de informações por este militar, minucioso, mas fantasioso relatório de informações. Por que fantasioso? Porque foi incluído diversas informações que nada guarda relação com o objeto e tão pouco com os alvos que seriam supostamente os autores dessas ameaças. E esse relatório foi previamente ajustado com o coordenador do Gaeco, Marco Aurélio de Castro. Esse relatório fantasioso buscou narrar elementos que subsidiassem a instauração do procedimento do laboratório criminal e subsidiar a peça para realizar interceptação telefônica desses alvos”, disse em seu depoimento.

 

Ainda de acordo com o depoimento de Gerson, que realizou investigações, nada do que teria pesquisado, guardava relação com aquilo que Selma teria informado. As pessoas supostamente que teriam envolvimento com essas ameaças seriam Silval Barbosa o irmão de Silval Antônio Barbosa, Filadelfo Dias, José Milas e a esposa.

 

“E outras pessoas que tiveram suas privacidades violadas, para subsidiarem esse relatório, com suporte jurídico do senhor Marco Aurélio, apontavam para uma ameaça à vida e integridade física da senhora Selma Rosane Arruda. Pelo contrário, o objetivo era bisbilhotar a vida do seo Filadelfo, que já tinha sido alvo do Gaeco e que era apontado pelo promotores de Justiça da época como “novo Arcanjo” de Mato Grosso, e bisbilhotar a vida do seo Toninho Barbosa, irmão de Silval Barbosa, para verificar o que eles estavam articulando, além de outros assuntos, em particular, assuntos políticos".

 

Rodinei Crescêncio/Rdnews

Gerson

 

"Não foi recolhido nenhuma conversa remetida ao fato. Ainda assim havia a persistência dos promotores de Justiça em prorrogar essas investigações. Assim, foi feito por mais um período sem, no entanto, ter elemento que apontasse para ameaça à doutora Selma", revelou.

 

Ao final, Gerson cita que o que ocorreu a seu ver foi uma típica “barriga de aluguel” realizada no Gaeco. “Essa exclusividade apontada ao Núcleo de inteligência da Polícia Militar nesta ação penal ela não se inicia com a Polícia Militar. Ela vem do Gaeco há muito tempo”.

 

Na terça-feira (16), foram ouvidos os coronéis Evandro Alexandre Ferraz Lesco[ ex-secretário da Casa Militar na gestão de Pedro Taques (PSDB) e Zaqueu Barbosa, ex-comandante da Polícia Militar[também na gestão de Taques].

O escândalo da grampolândia veio à tona em 2016, após denúncia do ex-secretário de Segurança Pública do Estado e promotor de Justiça, Mauro Zaque de que policiais militares e integrantes da cúpula do Poder Executivo estariam grampeando ilegalmente políticos, empresários, juízes e jornalistas através da modalidade "barriga de aluguel", onde os números eram anexados, de forma ilegal, à lista de interceptação de pessoas investigadas por tráficos de drogas na Comarca de Cáceres.