Sexta-feira, 26 de Abril de 2024

AGRO & ECONOMIA Domingo, 18 de Agosto de 2019, 03:26 - A | A

Domingo, 18 de Agosto de 2019, 03h:26 - A | A

INTERFERÊNCIA POLITICA

Chefes da Receita ameaçam sair

Brasília A/E

Os auditores fiscais que ocupam as mais altas posições de chefia da Receita Federal ameaçam entregar os cargos caso sejam efetivadas indicações políticas na superintendência do Rio de Janeiro e em outros postos chaves do órgão. Os seis subsecretários do órgão estão fechados nessa posição, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo.

 

O efeito da entrega de cargos poderá ser em cascata, com outros chefes da alta administração da Receita. O órgão se encontra em crise, pressionado pelo Executivo, Legislativo e Judiciário para mudanças em sua estrutura e na forma de atuação. A situação se agravou com os relatos nos bastidores do órgão de que o secretário especial da Receita, Marcos Cintra, pediu ao superintendente da PF no Rio de Janeiro, Mário Dehon, a troca de delegados chefes de duas unidades no Estado - a Delegacia da Alfândega da Receita Federal no Porto de Itaguaí e da Delegacia da Receita Federal no Rio de Janeiro II, na Barra da Tijuca. O pedido teria partido de familiares do presidente Jair Bolsonaro. 

 

Auditores que ocupam os cargos mais altos do órgão se preocupam com as indicações políticas do governo e demonstram insatisfação

A Delegacia da Alfândega da Receita Federal no Porto de Itaguaí é estratégica no combate a ilícitos praticados por milícias e pelo narcotráfico em operações no porto, que incluem contrabandeado, pirataria e subvaloração de produtos. Dehon, que está com o cargo ameaçado, recusou indicar o nome que foi sugerido, por entender que não preenchia os critérios técnicos para a indicação. 

 

Procurado por meio da assessoria de imprensa, Cintra não se manifestou sobre a informação de que sugeriu troca de delegados na Receita. ‘Independentemente de quem tenha feito ou qual seja o pedido, tentativas como essa de interferência política no órgão são absolutamente intoleráveis, típicas de quem não sabe discernir a relevância de um órgão de Estado como a Receita Federal’ afirmou o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco). 

 

O sindicato diz também que ‘a possível exoneração de um superintendente por tal razão é algo jamais visto’. O secretário Marcos Cintra, que vem sendo pressionado pelo Supremo, pelo ministério da Economia e pela cúpula do Congresso, também é alvo da insatisfação dos auditores-fiscais. Os chefes da Receita veem omissão de Cintra na defesa do órgão. A nota do Sindifisco critica também ‘omissão’ do ministro da Economia, Paulo Guedes, e afirma: ‘Não há nada mais grave para um país em déficit fiscal do que ter um Governo que fomente crises no próprio órgão responsável pela fiscalização e arrecadação de tributos’.