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POLÍCIA Quarta-feira, 07 de Agosto de 2019, 13:58 - A | A

Quarta-feira, 07 de Agosto de 2019, 13h:58 - A | A

MULHER DESABAFA NO FACEBOOK

Lei Maria da Penha completa 13 anos e violência está longe de fim

Rafael Medeiros

Rede Social

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A Lei Maria da Penha completa 13 anos nesta quarta-feira (7), mas a violência doméstica, infelizmente, está longe de acabar.

 

De acordo com especialistas, os dramas vividos pelas vítimas, entretanto, não são conhecidos, nem mesmo pelos amigos próximos e familiares.

 

A Lei Maria da Penha foi inserida na Legislação brasileira em 2006.

 

De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública, 20.877 ocorrências envolvendo vítimas femininas de 18 a 59 anos foram registradas no primeiro semestre [janeiro a junho] deste ano. Mais da metade dos casos está ligada à Lei Maria da Penha.

 

Fora os milhares de relatos de mulheres, do Brasil e do mundo, que vêm ganhando as redes sociais, comovendo pessoas e, claro, causando profunda indignação pelos maus-tratos, agressões e mortes. Caso recente em Mato Grosso que desvela a banalização da violência e da morte, tendo mais uma vez a mulher como alvo, foi contado pela professora Soninha Oliveira, moradora de Sorriso (a 420 km de Cuiabá), no início desta semana.

 

A professora resolveu postar uma foto com rosto bastante marcado, após ser vítima de uma surra do marido. Suas declarações nas redes causaram surpresa em muitos, principalmente aqueles mais próximos à ela, após confidenciar as agressões que vêm sofrendo do companheiro. A professora depois do desabafo, oficializou a autoria do espacamento, registrando um boletim de ocorrência e ainda pedindo medidas protetivas. 

 

Somente neste ano, 49 mulheres foram assassinadas por homens em Mato Grosso

Nos comentários as pessoas se assustaram, algumas como uma amiga mais próxima revelando, assustada, que eles, aparentemente, pareciam ser tão felizes. Soninha relatou que teve seus e-mails, redes sociais invadidas e ligações desviadas. “Engraçado que todos os meus contatos estavam vinculados aos números do meu 'ex'! Troco de número e até de aparelho, nada muda. Mas é claro que não foi ele”, descreve a professora.

 

Ela conta que chegou a perder compromissos profissionais, viu torpedos serem entregues sem que ela estivesse mandado. E ainda que não conseguia acessar a caixa postal para ouvir os recados deixados, pois eles eram apagados. Percebeu também que o notebook estava cheio de aplicativos que ela nunca instalou. 

 

Depois de diversas surras, era obrigada a mentir para os parente que 'caia limpando casa'. Numa destas agressões sob a desculpa de 'tombos', lhe rendeu uma surdez durante três dias, uma mandíbula dormente, profunda dor de cabeça e um “nó na garganta”, pela intensa sensação de impontência. Afirmando que foram noites de pânico, pois a dor era tanta que não conseguia dormir. 

 

“Se vc tb se machuca limpando a casa [...] fica a dica! Denuncie”.

 

Casos como o de Soninha que teve a coragem de denunciar a agressão e, inclusive, publicar fotos dos espacamentos recebidos são bastante atípicos. Pois comumente a vítima se esconde atrás das próprias mentiras, por conta da impotência e da vergonha, muitas acabam morrendo por não terem revelado a verdade. 

 

Dentro deste grupo há aquelas que ainda pedem ajuda anonimamente, por medo de serem descobertas pelo seus agressores. Ou ainda, por vergonha e,  muitas ainda por não terem para onde ir.

 

E centenas porque criadas para serem mulheres, amantes e mães não sabem - diante destas agressões -, que caminho seguir, com uma sensação permanente de que o 'erro habita nela e não no agressor' que, cruel e covardemente, as submetes a constantes espacamentos e, mais tarde, pedem perdão, jurando que isto não voltará mais a acontecer.

 

O fim, lá na frente, para muitas, já comprovado pelo aumento estratosférico no número de boletins de ocorrências, são longos traumas e várias mortes. (Com informações de Natália Araújo)

 

Encontro com a autora da lei

 

O “Colóquio dos 13 anos Maria da Penha”, vai ocorrer no Teatro Zulmira Canavarros,  na próxima sexta-feira, 9 de agosto, das 8h às 18h.

 

As inscrições, que poderiam ser feitas até o dia 5, estão encerradas porque foi atingida a capacidade do espaço na Assembleia Legislativa.