Quarta-feira, 08 de Maio de 2024

SAÚDE & BEM ESTAR Sábado, 12 de Janeiro de 2019, 16:18 - A | A

Sábado, 12 de Janeiro de 2019, 16h:18 - A | A

FILHO DOS OUTROS NÃO É SEU

É arriscado beijar bebês recém-nascidos? Veja que cuidados tomar na hora da visita

Bem Estar

"Parem de querer beijar bebê que não é seu" — este é o pedido de Rafaela Moreira feito em um post no Facebook da última sexta-feira (4). Ela afirma que o filho, Gustavo, foi infectado com herpes aos 17 dias de vida — por causa do beijo de uma visita, segundo declarações feitas ao jornal "Extra". A publicação viralizou, com mais de 185 mil compartilhamentos e 25 mil "likes".

 

Leia o caso - Bebê de 17 dias contrai herpes após beijo de visita

 

Rafaela contou ao jornal que, um dia antes de aparecerem as bolhas no rosto do neném, ele chorava muito, e ela chegou a achar que poderiam ser cólicas. Quando viu as marcas, levou um susto. "O rosto dele estava todo infeccionado, aí eu o levei de imediato ao hospital, onde a médica contou que o herpes foi contraído pelo beijo. Ela recomendou que nessa fase a gente tem que evitar visitas", relatou.

 

Kléber Luz, infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explica que o herpes, bastante comum em adultos, traz risco para recém-nascidos porque o sistema imunológico deles ainda é muito frágil.

 

"O recém-nascido tem as defesas muito baixas. O herpes, no recém-nascido, tem uma característica: invade o sistema nervoso e produz encefalite [inflamação no cérebro]. Por isso que, mesmo vendo só as bolhinhas no rosto, é um indicativo de lesão cerebral. É grave", explica Luz. 

 

Existem dois tipos de vírus que causam o herpes: o tipo 1 e o tipo 2. A infecção pelo 1 é a responsável pela maioria dos casos de herpes oral — que causa feridas na boca que parecem aquelas acarretadas pelo frio. 

 

Já o tipo 2 é o que dá origem à maioria dos casos de herpes genital. Segundo a OMS, cerca de 3,7 bilhões de pessoas no mundo abaixo dos 50 anos têm o tipo 1 do vírus, e 417 milhões, o tipo 2. 

 

Contágio 

 

"A transmissão é feita pelo contato — principalmente íntimo, como um beijo — da pessoa infectada com a que nunca teve herpes", explica Kléber Luz. Ele lembra que, mesmo que as feridas não estejam aparentes, a pessoa pode ser contaminada. O maior risco, no entanto, é quando as feridas — chamadas de úlceras ou bolhas — estão aparentes. 

 

A doença, seja em sua variação oral ou genital, não tem cura, mas pode ser tratada com antivirais, que ajudam a reduzir a severidade e a frequência dos sintomas. 

 

Fatores como exposição ao sol e estresse podem desencadear as feridas. 

 

Como proteger os bebês? 

 

Kléber explica que, devido ao fato de a maioria das pessoas já ter sido infectada por herpes — mesmo que não apresente sintomas —, a maior probabilidade é de que a criança pegue a doença da própria mãe, por meio do contato com o canal vaginal durante o parto normal. Segundo a OMS, isso acontece com cerca de 10 a cada 100 mil nascidos em todo o mundo. Mas a doença também pode ser transmitida se a pessoa infectada beijar o bebê — como Rafaela relata ter sido o caso do filho. 

 

Por isso, é importante adotar alguns cuidados na hora de visitar a criança. 

 

O ideal é não visitar a criança assim que ela nascer — espere pelo menos um ou dois meses, inclusive para dar chance à mãe de se recuperar do parto. "Recém-nascido não é pra ser visitado, é pra ser cuidado.

 

Uma mãe, uma tia, uma avó, encerra aí. Hoje em dia é uma caravana pra visitar — e pega, beija, abraça", recomenda Luz. "A criança é muito frágil, o sistema imunológico está debilitado. Quem tem que ter contato é a mãe. Ficar em silêncio. Deixa a criança fazer um mês, dois meses, que aí pelo menos já tomou as primeiras vacinas." 

 

Evite segurar a criança "Ninguém tem que pegar o bebê no colo. Ele tem que ficar na dele, quietinho, longe de todo mundo. Só quem pega é a família íntima. Tocar na mão do bebê, por exemplo, é a mesma coisa que dar um beijo na boca dele, porque ele coloca muito a mão na boca. E, se estiver doente, não vá visitar", diz a pediatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Ana Escobar

 

Se for pegar, lave as mãos e evite beijar o neném