A recente polêmica envolvendo a campanha de fim de ano da Havaianas escancarou uma verdade que profissionais de comunicação conhecem bem: no ambiente digital, silêncio também comunica, e, muitas vezes, deixa espaço para que outros ocupem a narrativa.
O episódio, que começou como uma ação publicitária criativa, rapidamente foi capturado por disputas ideológicas e transformado em crise reputacional. Ao mesmo tempo, revelou como marcas atentas, mesmo sem discurso explícito, podem se beneficiar quando entendem o timing da conversa pública.
A frase “Não quero que você comece 2026 com o pé direito”, lançada em campanha estrelada por Fernanda Torres, foi interpretada por setores conservadores como provocação política. O resultado foi previsível: boicotes, manifestações organizadas, vídeos de destruição de produtos e uma avalanche de comentários que extrapolaram o campo do consumo e migraram para o embate ideológico.
Para quem atua em assessoria de imprensa, o episódio deixa lições claras. Marcas não controlam mais apenas o que dizem, mas também o que é dito sobre elas
Em tempos de redes sociais hiperpolitizadas, campanhas deixam de ser apenas campanhas, tornam-se símbolos. É nesse ponto que a assessoria de imprensa e a comunicação estratégica se mostram indispensáveis. Não se trata apenas de “apagar incêndios”, mas de compreender o ambiente, mapear riscos, antecipar interpretações e orientar marcas sobre como, quando e se devem responder. A ausência de uma mediação clara pode ampliar ruídos e permitir que terceiros, muitas vezes concorrentes,ditem o tom do debate.
Enquanto a Havaianas enfrentava desgaste, marcas como Ipanema e Tropical Brasil passaram a ser mencionadas espontaneamente como alternativas de consumo. No caso da Ipanema, o crescimento foi expressivo: o perfil da marca no Instagram dobrou de seguidores em poucos dias, impulsionado por uma narrativa construída pelos próprios usuários. A empresa, com leitura precisa do cenário, respondeu com uma peça simples, rápida e alinhada ao humor do momento, convertendo engajamento em posicionamento sem necessariamente assumir um discurso político formal.
Esse movimento não acontece por acaso. Ele é resultado de escuta ativa, leitura de contexto e decisão estratégica. E aqui entra o papel fundamental da imprensa. Foi a cobertura jornalística que organizou os fatos, contextualizou os discursos, expôs os impactos econômicos e revelou os desdobramentos no mercado. Sem jornalismo profissional, a crise ficaria restrita ao campo da gritaria digital, onde versões se sobrepõem aos fatos.
Para quem atua em assessoria de imprensa, o episódio deixa lições claras. Marcas não controlam mais apenas o que dizem, mas também o que é dito sobre elas. E é justamente nesse espaço entre a marca, a sociedade e a imprensa que o assessor atua: traduzindo, mediando, contextualizando e protegendo reputações sem abrir mão da transparência.
Crises de imagem continuarão existindo. O que muda é a capacidade de gestão. Em um cenário em que um slogan pode virar manifesto e um chinelo pode se tornar símbolo político, comunicação deixou de ser acessório. É estratégia central. E quando bem conduzida, transforma ruído em aprendizado, exposição em reposicionamento e debate em oportunidade.
No fim das contas, mais do que “pé direito” ou “pé esquerdo”, o que define o futuro das marcas é ter comunicação profissional, imprensa responsável e estratégia clara para caminhar em terrenos cada vez mais sensíveis.
Ana Barros é jornalista em Cuiabá e atua em assessoria de imprensa
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