Quarta-feira, 09 de Outubro de 2024

CIDADES Sábado, 21 de Abril de 2018, 10:27 - A | A

Sábado, 21 de Abril de 2018, 10h:27 - A | A

2.995 reeducandos estão matriculados este ano

Da Assessoria

A sala de aula representa uma chance de centenas de reeducandos avançarem no processo educacional e na ressocialização. E, pensando nisso, 2.995 internos  encontraram no lápis, papel e caneta a oportunidade de mudança e ingressaram no ano letivo  em 45 unidades prisionais de Mato Grosso.

 

As aulas do Ensino Fundamental e Médio são ministradas por 149 professores que atuam na Escola Estadual Nova Chance, que cuida especialmente da educação para o Sistema Penitenciário. Em sala, eles representam uma fonte de conhecimento que, ao ser acessada, possibilitará ao aluno a ampliação intelectual, além da remição na pena.     

                                                  

Jhiones de Arruda Mazeto é professor de 25 recuperandos com idades entre 18 e 60 anos da Penitenciária Major Eldo de Sá Corrêa, em Rondonópolis (215 km ao Sul de Cuiabá). Para ele, um dos desafios de trabalhar com a pessoa privada de liberdade é sempre motivá-la a continuar os estudos mostrando que a educação é um dos principais mecanismos de transformação de vidas.

 

“Dar aulas no sistema prisional é muito gratificante, pois, nos mostra que todos têm direito e acesso à educação e que o estudo é fundamental no processo de ressocialização e reinvenção na sociedade da pessoa privada de liberdade”, diz o professor.

 

Ele explica que na sua turma são realizadas aulas práticas participativas com dinâmicas, oficinas e debates. Além disso, ocorrem também diálogos vinculadas a vivência e experiência vindo de encontro com a modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

 

Ernesta da Silva Araújo, professora de 30 recuperandos com idade entre 30 a 55 anos, da unidade masculina de Juína, tem em seu quadro de alunos pessoas participativas, interessadas em aprender, o que para ela é motivador como educadora. Pedagoga e pós graduanda em Educação em Direitos Humanos, Diversidade e questões Étnicos-Sociais ou Raciais, a metodologia utilizada por Ernesta em sala de aula é voltada para o diálogo, lúdico e poesia.

 

“Para um profissional da educação que realmente gosta do que faz, não existe diferença em sala ou ‘cela’ de aula, se têm pessoas que precisam ou que queiram aprender, ali estaremos para construir juntos o conhecimento. Essa é uma oportunidade de despertar o interesse para que o recluso possa dar continuidade na vida pós cadeia”, entende a professora.

 

Há seis anos ministrando aulas no sistema penitenciário e há três à frente da alfabetização da unidade prisional feminina de Nortelândia, Gizele Cavalcante de Souza, conta que as mulheres acima dos 40 anos de idade têm mais interesse nos estudos. “A gente estimula elas a estudarem. Existem algumas que não querem, alegando que estão velhas demais para isso, mas quando começam se apaixonam e realizam muitos trabalhos brilhantes”, relata a professora.

 

O coordenador da Escola Nova Chance no Centro Ressocialização de Cuiabá, José Carlos da Silva Adriano, ressalta que é importante incentivar os recuperandos a ver no estudo uma ponte para uma nova vida. Ele acredita que a educação é a porta de saída do círculo vicioso da criminalidade.

“O nosso principal desafio é ganhar esse aluno para educação, por que muitos estão ali pela remição, mas essa é uma oportunidade única em que eles podem aproveitar para realmente aprenderem, já que muitos, ao serem soltos, sentirão vergonha de estudar em uma escola regular por ter pertencido ao sistema penitenciário”, explica o pedagogo.

 

Nova chance

 

Os professores acreditam que o estudo é uma ferramenta de transformação na mão de quem deseja por uma vida nova. A coordenadora de Educação Prisional da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), órgão responsável pelo Sistema Penitenciário no Estado, Fabiana Flávia de Magalhães, avalia que a escolha do estudo nunca será invalidada porque o conhecimento é algo que ninguém tira da pessoa.                                               

“Podem te tirar a roupa, a dignidade e a liberdade, mas o conhecimento jamais. Ele é intrínseco. Estará com a pessoa independente de onde estiver”, acredita Fabiana, que continua dizendo que o estudo para quem está privado de liberdade é uma nova chance de ser inserido na sociedade, a qual é excludente por si só. “Oferecer essa chance é dar mão para aquele que precisa de uma oportunidade de transformação e talvez os professores, representados em sala de aula, sejam essa mão amiga”, finaliza.