Em conversa com O Bom da Notícia, a tenente-coronel Emirella Martins - que comanda em Mato Grosso o programa de Policiamento Patrulha Maria da Penha -, asseverou que a violência doméstica é multifatorial e complexa. Assim, a Polícia Militar sozinha não daria conta de resolver todos os problemas que a circundam.
Desta forma, paralelamente, às ações da Patrulha há ainda o Observatório de Violência da Secretaria de Estado de Segurança Pública e um trabalho em rede com instituições e ONGs que realizam atendimentos às mulheres vítimas de violência, integralizando as ações.
Ainda assegurando que é este trabalho em rede que ajuda a tirar esta mulher do ciclo de violência em que vive. Sobretudo, dentro deste contexto de violência, a evitar que ela entre, inclusive, em outro relacionamento abusivo.
"Vivemos sob um sistema estruturalmente machista. Assim, esta mulher criada sob este regime acaba relativizando ou normatizando essas relações abusivas. Então nós fazemos todos esse processo de esclarecimento, de desconstrução desses processos culturais. Mas é a atuação em rede que nos ajuda. Então não é só a Polícia Militar, Civil, Ministério Público Estadual ou Judiciário, mas este trabalho, igualmente, dos coletivos, ONGs, e instituições. Pois juntos, ganham a eficiência de fazer esta mulher compreender o ciclo de violência em que está e, sobretudo, como romper com ele".
Ao ainda lembrar que - por conta deste sistema estruturado no patriarcalismo, no machismo -, nada é mais democrático do que as dores da mulher. E que, assim, as mais diversas agressões impostas à ela não ocorrem somente com aquelas em vulnerabilidade, mas atingem a todas. 'Sejam elas pobres, da classe média ou da classe mais abastada'.
"Agressões e abusos atingem todas as classes sociais, indiferente a religião, status ou ao grau de escolaridade. Claro, há uma tendência que casos de violência doméstica sejam mantidas comumente em sigilo nas classes mais altas. Assim, estas situações são mais evidentes em mulheres que vivem em vulnerabilidade financeira e social. Mas as agressões não têm distinção e ocorrem em todas as camadas sociais".
Sobre a Patrulha
No último dia 21 de julho, a Patrulha Maria da Penha completou três anos de sua implantação no Estado. A ação tem como base o atendimento de medidas protetivas de urgência decretadas pela Justiça. Mas a Patrulha atua não só em parceria com o Poder Judiciário, mas ainda com o Ministério Público, Defensoria Pública, Polícia Judiciária Civil e vários coletivos e instituições que construíram, no estado, uma rede de proteção à mulheres vítimas de violência.
Atualmente, são atendidas pela Patrulha 32 cidades de Mato Grosso, dentre eles estão Cuiabá, Santo Antônio do Leverger, Chapada dos Guimarães, Várzea Grande, Nossa Senhora do Livramento, Sinop, Sorriso, Rondonópolis, Jaciara, Alto Araguaia, Barra do Garças, Pontal do Araguaia, General Carneiro, Primavera do Leste, Ribeirãozinho, Torixoréu, Novo São Joaquim, Cáceres, Tangará da Serra, Juína, Juara, Alta Floresta, Primavera do Leste, Comodoro, Pontes e Lacerda e Querência - mais os distritos de: Indianópolis, Vale dos Sonhos e Itaquerê. Mas com uma abrangência bem maior nestes atendimentos que podem chegar até 70 municípios.
Na capital mato-grossense, como em outros municípios do Estado, a Polícia Militar acompanha e monitora de perto aquelas mulheres que já sofreram algum tipo de agressão, seja verbal, física ou até ameaças de homens com os quais mantinham algum tipo de relacionamento íntimo e de confiança.
Atualmente estão inseridos nestes atendimentos, 98 policiais homens, 39 mulheres e com 12 veículos exclusivos da Patrulha. Mas com a inserção de novos militares à Corporação, Emirella acredita que, em breve, os 141 municípios mato-grossenses terão a presença deste tipo de policiamento em favor das mulheres.
Veja a entrevista na íntegra ao Cast do Bom