Neste ano, em torno de mil reeducandos do regime fechado do Sistema Penitenciário de Mato Grosso devem participar das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
As provas para as pessoas privadas de liberdade serão aplicadas nos dias 11 e 12 de dezembro em todo o país. Foram inscritos 1.028 reeducandos de 37 unidades prisionais de Mato Grosso e, conforme o resultado no Enem, eles podem alcançar a oportunidade de ingresso no ensino superior.
Entre 2015 e este ano, foram inscritos no Enem PPL 3.662 reeducandos. Das salas de aula de unidades penitenciárias, alguns recuperandos conseguiram obter sucesso nas provas do exame e atualmente estudam em instituições públicas de ensino superior, como a Universidade Federal de Rondonópolis, com autorização judicial.
Atualmente são 33 reeducandos de várias unidades prisionais cursando graduações, como Letras, Ciências Contábeis, Ciências Biológicas, Administração, Matemática e Zootecnia.
Um deles é A.J., 36 anos, que atualmente estuda Letras na instituição pública. Quando entrou na penitenciária Major Eldo Sá Corrêa ele tinha apenas a sexta série.
“Comecei a frequentar a escola dentro da unidade e foi onde eu tive a oportunidade de concluir meu ensino médio. Fiz o Enem e alcancei a média para entrar na universidade", afirma o universitário que está ingressando no terceiro ano da graduação em Letras na agora Universidade Federal de Rondonópolis (UFR). Ele afirma que o começo foi difícil, pela própria insegurança em entrar em um mundo, até então, desconhecido.
"Contei com muito apoio das professoras da unidade. Aumentei minha autoestima, relacionamento familiar. Não foi fácil, o início foi muito turbulento, tinha insegurança em saber como seria tratado pelo que cometi no passado. Fui me aproximando, fiz um círculo de amizades importantes dentro da universidade que me ajudou a superar muitas dificuldades. Vou alcançar meu objetivo de concluir meu curso e fazer uma pós", acrescenta.
“Na minha vida antes não passava pela minha cabeça eu terminar meu ensino médio, entrar em uma faculdade. Isso foi a oportunidade que me apareceu dentro da unidade prisional e sou bastante agradecido por isso e me empenho bastante em concluir meu curso”, conclui A.L.
J.M. é um dos calouros do curso de Zootecnia da UFR. Agarrou a chance que recebeu na penitenciária para estudar e se atualizar. Com o auxílio do cursinho preparatório para o Enem ofertado nas salas de aula da unidade, ele conseguiu fazer o exame e alcançar pontuação para a graduação escolhida na universidade federal.
"O Enem é importante, pois abre portas para o futuro de muitas pessoas. Na unidade recebi uma oportunidade ímpar e a faculdade vai me proporcionar uma nova chance, um novo futuro que vai modificar minha vida".
Esforço conjunto
Fabiana Magalhães, coordenadora do Núcleo de Educação nas Prisões da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, explica que o número expressivo de reeducandos para o Enem 2018 é resultado da sensibilização dos responsáveis pedagógicos junto aos gestores das unidades. “Os pedagogos e gestores das unidades se uniram num esforço conjunto para ampliar o alcance das atividades educacionais com as pessoas privadas de liberdade”.
Até 2016, a participação no Enem servia para que o reeducando pudesse certificar a conclusão do ensino médio. Agora, para este ano, houve outra mudança e só pode participar aqueles que já tenham concluído o ensino médio.
Encceja
Fabiana Magalhães informa também que 1.686 recuperandos participaram no mês de setembro das s provas do Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos – que certifica os ensinos fundamental e médio. O resultado será divulgado no dia 12 de novembro.
O Sistema Penitenciário de Mato Grosso possui salas de aula em 46 unidades prisionais e neste ano em torno de 3.400 mil recuperandos foram matriculados nos ensinos fundamental e médio.
O Núcleo de Educação nas Prisões da Sejudh é responsável pela coordenação, supervisão, orientação e acompanhamento da oferta de educação, capacitação e profissionalização das pessoas privadas de liberdade nas unidades prisionais Mato Grosso.