Quarta-feira, 08 de Maio de 2024

CIDADES Quinta-feira, 08 de Abril de 2021, 14:00 - A | A

Quinta-feira, 08 de Abril de 2021, 14h:00 - A | A

302 ANOS DA CAPITAL

Historiador explica "linguajar cuiabano", aponta "pertencimento" e revela "influências"

Marina Cintra / O Bom da Notícia

Reprodução

E

 

Conhecida popularmente como “Cidade Verde”, Cuiabá, capital do Mato Grosso, completa 302 anos nesta quinta-feira (8).

Fundada em 8 de abril de 1719, ainda durante o ciclo do ouro no Brasil, a capital é um dos acessos atrativos como o Pantanal, oferecendo um variado cardápio de opções aos visitantes, além de possuir uma rica cultura.  

Em homenagem ao aniversário da capital, o historiador Suelme Fernandes, em entrevista a Rádio CBN Cuiabá, explicou sobre o famoso linguajar cuiabano e suas influências.

Esclarecendo, sobretudo, a questão do 'pertencimento cuibano', que é a crença subjetiva numa origem comum que une distintos indivíduos, como membros de uma coletividade na qual símbolos expressam valores e aspirações.

Esclarecendo, sobretudo, a questão do 'pertencimento cuibano', que é a crença subjetiva numa origem comum que une distintos indivíduos, como membros de uma coletividade na qual símbolos expressam valores e aspirações. Ao explicar que há três expressões popularmente conhecidas na cidade, o cuiabano de 'tchapa e cruz', 'pau rodado' e 'pau fincado' .

Cuiabano de tchapa e cruz é uma identidade de pertencimento, refere a crianças que nasceram na capital. Já o pau rodado são pessoas que vêm à Cuiabá mas não ficam na cidade por muito tempo. E o pau fincado são pessoas que vieram de outras cidades para recomeçar suas vidas aqui, ou seja, estão na capital há muito tempo.   

“Diz de ‘tchapa e cruz’ porque era onde nasciam as crianças. Na Santa Casa da Misericórdia tinha um berçário e as freiras colocavam uma chapa que tinha uma cruz para identificação das crianças nascidas em Cuiabá. Já na década de 80, com a chegada dos imigrantes, começaram a diferenciar as crianças nascidas fora da cidade, que eram chamadas de pau rodado. A expressão é devido ao fato dos caules que caem no rio Cuiabá. Eles vão girando e parando nas curvas dos rios. Já o pau fincado é a pessoa que chegou de outra cidade, mas que ficou e criou ‘raizes na cuiabania’", explica.   

(Foto: Divulgação)

SUELME-CBN.png

 

Fernandes conta que, hoje, muitas pessoas conhecem os termos mas não se importam com a rotulação, contudo, antigamente, o rótulo chegava a ser ofensivo. “É uma brincadeira, não entendo como sendo um preconceito, mas antigamente, era uma ofensa se ‘misturar’. Esse estranhamento fez parte desse preconceito inicial das pessoas que vieram de fora com os nativos”, disse. 

 

Suelme ainda apontou que há várias teorias sobre o dialeto cuiabano, mas que, primordialmente, ele surgiu das confluências culturais derivadas da língua espanhola, portuguesa, africana e indígena. Essa pluralidade cultural acabou por dar origem, por exemplo, ao famoso ritmo do rasqueado cuiabano.   

“Precisamos levar em consideração que estamos dentro da região do Pantanal e que o cuiabano é, sim, pantaneiro. Além de estarmos na fronteira internacional com o Paraguai - antes da divisão -, e ainda com a Bolívia. O rasqueado é produto deste encontro. Quando a gente fala de uma relação internacional de Cuiabá, nós precisamos resgatar essa centralidade e essa nossa relação internacional com povos andinos e com os países latino-americanos”, pontuou o historiador.  

Ainda explicando que alguns linguistas consideram que além do rasqueado, essa influência está ligada ao modo de vida cuiabano e a troca do ‘L’ pelo ‘R’, ainda que seja considerado um erro linguístico.   

E descartando com veemência quaisquer possibilidades de extinção do linguajar cuiabano, ao lembrar do episódio do 'Cavalinho do Cuiabá Esporte Clube', personagem do Auriverde, que apareceu no programa do Fantástico, na Rede Globo, com sotaque “mineiro”, apontando uma suposta falta de regionalismo. Ao assegurar que este episódio em nada modifica o conceito de que 'um dialeto nunca morre', ao reforçar a linguagem cuiabana, como algo especial.   

“O linguajar cuiabano, a partir da década de 70 sofreu muita discriminação, por conta do número de pessoas vindas de outros estados para viver na capital, com estes 'paus rodados ou paus fincados', tendo muita dificuldade em assimilar este modo de falar. Por isso, o linguajar começou a ser falado apenas no ambiente doméstico. Neste espaço a cuiabania falava solto [...] Mas, sim, a um momento mexeu muito com a identidade local. O que não significa que o linguajar morreu, quem morreu foram as pessoas e, claro, o dialeto permaneceu”, afirma.  

Lembrando que o preconceito linguístico pode ser forte, mas a identidade se dá através deste contraste. E que uma das formas de se manter o linguajar vivo e fortalecido é por meio das das mídias digitais, que acaba ressignificando-o.  

Assessoria

mascara, pessoas, centro, povo, covid, coronavirus

 Ah! Uuum - Expressão que indica indignação, concordância ou não. É aplicada dependendo da situação E a entonação da voz muda.

Ex: ‘Ah! Uuum. Pára cô isso.”

Agora quãndo!? – Interjeição de duvida.
Ex: ‘Maria teve três namorado… hummm.. agora quando!?”

Agora o quequeesse! – Espanto
Ex: ‘Agora o quequeesse, mas que cabelo mais tchum tchum…”

Aguacêro – Bastante chuva, poças de água.
Ex: ‘Não deu pra ir lá, tava o maior aguacero na estrada.”

Arroz-de-festa – Denominação de quem não perde nenhuma festa . Está sempre em festa. Ex: ‘Ele vai em casamento, batizado, 1a comunhão, crisma, formatura,.. . é um arroz de festa.”

Atarracado (a) – Abraçado, juntos.
Ex: ‘Os dois tão atarracado ali no escuro.”

Até na orêia – Repleto, cheio, demais.
Ex: ‘Zé Bico comeu tanto peixe, que tá até na orêia.”

Bejô, bejô, quem não bejô, não beja mais – Fim da festa.
Ex: ‘Acabou o baile… bejô, bejô, quem não bejô, não beja mais.”

Bocó de fivela – Pessoa boba, burra, ignorante.
Ex: ‘Por mais que ocê explica, ela não entende, é uma bocó de fivela.”

Bonito prô cê - Expressão que indica quando a atitude tomada, não foi boa.
Ex: ‘Chegô em casa bêbado, bonito prô cê.”

Catcho – Namoro, paquera, amante.
Ex: ‘Aquele cara tá de catcho cô Maria.”

Cânháem – Latido de cachorro. Expressão usada para discordar.
Ex: ‘Você namora Maria Taquara? Canháem.”

Cêpo – Bom, ótimo, grande, admirável.
Ex: ‘O atlético Mato-Grossense era um cêpo de time.’

Chialá – Espia lá – Olhe lá.
Ex.: Maria, tchialá Mané, cêpo de burro veio fazeno quiném criancinha!

Coloiado (a) – Junto, próximo em grupo.
Ex: ‘Saldanha Derzi tá coloiado cô Garcia Neto.”

Cordero (a) – Denominação de quem gosta de dar corda nas pessoas.
Ex: ‘Não vai no papo dele, ele é cordero.”

Corre Duro – Andar mais rapido
Ex: ‘Vamos chegar atrasado vamos, corre duro.”

Cotxá – Relação sexual.
Ex: ‘Os dos devem ta cotxando, ta demorano demas.”

Tchá por Deus – Expressão de espanto, admiração, dúvida.
Ex: Chá por Deus, esse ônibus tá muito cheio. ‘

De jápa – Grátis, o que vem a mais.
Ex: Quando se compra uma dúzia de bananas, e recebe treze unidades. ‘Esse adicional é a de jápa.’

Digoreste – Ótimo, bom, exímio.
Ex: ‘O guri é digoreste pá pega manga.’

Ê aaah! – Indagação.
Ex: ‘Oia o tamanho do short? Ê aaah!’

Espia lá – Olha lá, veja.
Ex: ‘Espia lá, uma batida de carro.”

Futxicaiada – Muito fuxico. Excesso Excesso de mixirico.
Ex: ‘O ambiente ali não tá bom, é só futxicaiada. ”

Festá – Festar, participar de festa.
Ex: ‘Maria foi festá.”

Foló – Folgado, largo.
Ex: ‘Maciel usa calça foló.”

Garrô – Pegou, começou, realizou.
Ex: ‘Ele garrô cedo no trabaio.”

Grocotchó – Pessoa mole, doente, desanimado.
Ex: ‘Tchico tá grocotchó.”

Jururú – Triste, quieto.
Ex: Padre Luiz Ghisoni tá jururú na porta da igreja de Várzea Grande.’

Leva-e-tráz – fofoqueiro.
Ex: ‘Kitú é um grande leva-e-tráz.”

Londjura – Distância. Longe, muito distante.
Ex: ‘Nessa lonjura não dá pá ir a pé.”

Malemá – Popular de ‘mal e mal’. Mais ou menos.
Ex: ‘E aí cumpadre como vai? Vou indo malemá tenteano.”

Mea orêa – Minha orelha. Expressão usada para indicar quem está sem lado, sem falar o nome da pessoa.
Ex: ‘Mea orêa aqui, tá a fim do cê.’

Micaje – Ato de fazer imitação de alguém, fazer caretas.
Ex: ‘Ela faz micaje de todo mundo que passa por aqui.”

Moage – Frescura. Enrolação.
Ex: ‘Você não quer ir com a gente? Larga de moage!”

Na txintxa – Levar uma ação com seriedade. Sob controle.
Ex: ‘Professora leva a turma na txintxa.”

Não tá nem aí pá paçoca – Não liga para nada. Não quer saber das conseqüências.
Ex: Tchá Bina, não ta nem aí pá paçoca. ‘

Nariz furado – Veio na vontade, veio na certeza.
Ex: ‘Chegou de nariz furado, certo que iria ganhar na conversa.’

Negatófi – Negativo. Não, nunca.
Ex: ‘Negatófi, hodje não tem televisão.’

O quá – Duvidar, não acreditar.
Ex: ‘Ele vem aqui? O quá!’

Pá terra – cair.
Ex: “Ele vinha correndo, e pá terra”! ‘

Podre de chique – Bonito, elegante, bem vestido.
Ex: ‘Jejé tá podre de chique.”

Pongó - Bobo, tolo, idiota.
Ex: ‘Gente Pongó não serve.’

Por essa luz que me alomea – ‘Por essa luz que me ilumina’ Pra dizer que está falando sério, que não está mentindo.
Ex: ‘Por essa luz que me lomea, ele tá falando a verdade.’

Quinco – Denominação carinhosa de Joaquim.
Ex: ‘Quinco Lobo era vereador em Cuiabá.’

Que, que esse? – O que é isso.
Ex: ‘Que, que esse? Como você apareceu aqui?’

Quá! – Expressão de espanto, indignação.
Ex: ‘Quá! Pode esquecer ele não volta mais.”

Quebra-torto – Comer no desjejum comida reforçada como carne com arroz farofa, etc…
Ex: ‘No sítio de manhã, sem quebra-torto é impossível.’

Rufar – Bater.
Ex: ‘Se aparecer aqui , o povo rufa ele.’

Refestelá – Sorrir, rir.
Ex: ‘Nico Padero é bom pra refestelá.’

Ribuça – Cobrir o corpo com lençol ou cobertor.
Ex:’Tá esfriando, rebuça menino.’

Rebuça e Chuça – Baile.
Ex: ‘Na guarita vai tê hoje uma chuça e rebuça.’

Rino no tchá cara – Rindo na presença de alguém.
Ex: ‘Ocê fala, ele fica rino no tchá cara.’ (rindo na sua cara)

Sucedeu - Aconteceu.
Ex: ‘Quando sucedeu isso?’

Tá de tchico – Está menstruada.
Ex: ‘Hoje ela não pode tá de tchico.”

Tchá mãe - Expressão características para xingar alguém.
Ex: ‘Tchá mãe, rapaz, vá tomá na tampa.’

Tóma corno(a) – Expressão usada quando alguma coisa não acontece de forma correta.
Ex: ‘Toma, corno. Marimbondo pegô na cara dele.”

Verte água – Urinar (educadamente) .
Ex: ‘Vidona foi verte água.’