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CIDADES Domingo, 10 de Novembro de 2019, 14:04 - A | A

Domingo, 10 de Novembro de 2019, 14h:04 - A | A

USANDO A CRIATIVIDADE

Professora usa material descartável, recicla e transforma tudo em arte

Marisa Batalha - O Bom da Notícia

(Foto: Assessoria)

BONECA DE JORNAL.jpg

 

Andreza Faro é professora de Artes há 25 anos. Atualmente, leciona na Escola Municipal de Educação Básica, Professor Carlos Alberto Reyes Maldonado, no Bairro Imperial, ligada à Secretaria de Educação da Capital. Foi nesta unidade escolar que resolveu buscar a reciclagem, por meio de trabalhos com modelagem, recorte e colagem, usando o jornal, transformando tudo em belíssimas esculturas.

 

Assim, em aulas ministradas à colegas, professoras também da Educação Básica, Faro mirou as esculturas como forma de realizar uma bela reflexão das diferentes linguagens artísticas presentes nas Artes Visuais e, de quebra, inserir neste processo a discussão sobre as diferenças e o respeito a elas.

 

A ideia que a experiência seja agora repassada a mais colegas e ainda nas salas de aula, ajudando a identificar e mostrar como a criança se desenvolve na aprendizagem através das Artes Visuais (pintura, desenho, arte tridimensional[modelagem], recorte e colagem).

 

Ainda levando em consideração que ao usar estes aportes teóricos ligados a artes, acaba-se abordando a questão do ensino, por meio dos trabalhos manuais, no contexto atual de um mundo globalizado, em que as redes sociais se tornaram em uma importante ferramenta na divulgação e influenciação da produção artística. Até mesmo sob o olhar da economia criativa.

 

As ferramentas utilizadas para a feitura das esculturas vieram do reaproveitamento - na matriz do processo criativo -, de pilhas e mais pilhas de jornais antigos. Após uma série de pesquisas, ela conseguiu chegar a um 'ótimo resultado'; usando as tiras de jornais, palito de churrasquinho ou de algodão doce

A ideia das 'esculturas negras', de acordo com Faro, veio inicialmente após um convite para ministrar uma oficina na escola, onde atua como professora de artes, para os profissionais da unidade. Já o tema ficou por conta dos debates que estavam sendo realizados na escola sobre a questão da consciência negra. E, claro, as ferramentas utilizadas para a feitura das esculturas vieram do reaproveitamento - na matriz do processo criativo -, de pilhas e mais pilhas de jornais antigos. Após uma série de pesquisas, ela conseguiu chegar a um 'ótimo resultado'. Usando as tiras de jornais, palito de churrasquinho ou de algodão doce, que servem como base para fazer o corpo das esculturas. Assim, pouco a pouco, ela vai definindo o tamanho da peça, e criando um esboço de como ficarão, ao final, do processo.

 

"Algumas ideias busquei na internet como fazer a montagem, por exemplo. Já a construção da escultura [que chamamos também de bonequinhas], eu mesmo fui criando. Como o formato dos vestidos ou saias, as pinturas, os acessórios. Estes últimos, igualmente, feitos de jornal, em peças separadas. As minhas modelos, nesta oficina, foram as negras da África. As cores tive o cuidado para serem parecidas com as mais comuns ao país. Já os desenhos usei figuras geométricas para a decoração".

 

Quando ministrou a oficina para os profissionais da sua unidade escolar - a Escola Prof. Carlos Alberto Reyes Maldonado -, o objetivo era desenvolver um projeto, transformando “lixo” em arte e ainda ampliando, por meio do processo criativo, a discussão sobre a questão da negritude. Inicialmente, se lembra a professora, ela ensinou a montar o corpo da boneca com os palitos (além dos palitos de churrasquinho, tinha palitos feitos de jornal também) depois como colar os papéis de jornal, para dar forma. A arte final e o estilo da roupa ficaram, obviamente, por conta de cada um, ou seja, as professoras lançaram mão de suas criatividades.

 

Para o dia a dia com os alunos os trabalhos manuais são diferentes porque, agora, diz Faro, as crianças estão desenvolvendo a coordenação motora. "Porém, tem alguns alunos com melhor coordenação do que os próprios adultos, ainda que a faixa etária dos alunos sejam entre cinco a oito anos", ainda brinca.

 

Outra intenção de Andrezza, ao ensinar o processo artísticos para as professoras, era de buscar uma alternativa eficaz de relaxamento para os profissionais, após um dia trabalhoso com as crianças da unidade.

 

"Depois do processo de montar, esculpir, vestir e buscar as cores que dariam a forma final às escultura, claro, me senti muito orgulhosa. Neste período, eu estava com a minha auto estima muito baixa, devido de eu ter vindo de uma outra escola municipal onde as gestoras não davam valor aos trabalhos artesanais. Algumas chegando mesmo a dizer que não aguentavam mais ver canudos de jornais. E que eu só sabia fazer isso, mesmo que fossem estes canudos as ferramentas usadas na criação da arte. Aqui no Maldonado foi diferente. Já de cara me deram a oportunidade de mostrar os trabalhos, inclusive os que crio por meio de papelão, como porta lápis em forma de peixe. Uma brincadeira bacana, para um ano em se comemora o Tricentenário de Cuiabá".

 

Andrezza pretende agora realizar outra oficina e revela que ideias não faltam. Para isso já está novamente debruçada nas pesquisas, pois o objetivo da modelagem, por meio de produtos descartáveis, não é só reaproveitar o que já estava pronto para ir para o lixo. Muito antes é transformar estes produtos na 'mais pura arte'.