Uma das principais referências no enfrentamento à violência contra a mulher em Mato Grosso, a delegada Jannira Laranjeira, fez uma avaliação contundente, durante o Cast do Bom, sobre os principais desafios do Estado na proteção de mulheres vítimas de violência doméstica. Para ela, o primeiro obstáculo é reduzir a subnotificação, que ainda impede que muitas vítimas acessem políticas públicas e mecanismos de proteção.
Segundo a delegada, um número significativo das vítimas fatais sequer chegou a procurar ajuda formal. “O primeiro desafio do Estado, de quem ousa estar à frente do enfrentamento à violência contra a mulher, é reduzirmos a subnotificação. A maioria das mulheres que morreram não tinha medida protetiva. O Estado não havia alcançado essas mulheres.”
Jannira explica que muitas vítimas desconhecem os serviços disponíveis ou enfrentam dificuldades de acesso, especialmente em municípios menores. “Talvez ela nem tenha conhecimento de que existe uma delegacia especializada. Ou, no bairro onde está, não tenha acesso. Ela não foi alcançada pelo Estado no sentido de conscientização e prevenção, de tomar consciência de que é vítima.”
Mesmo entre as mulheres que vivem sob medida protetiva, a delegada afirma que o Estado ainda falha no acompanhamento e monitoramento dos agressores. “Medida protetiva por si só não protege. Nós falhamos na proteção, no monitoramento. Não temos acompanhamento 24 horas exclusivo para violência doméstica.”
Ela destaca ainda a falta de sincronia entre Executivo e Judiciário. Segundo Jannira, muitos agressores sequer chegam a ser intimados, principalmente porque grande parte das comunicações hoje ocorre por WhatsApp. “Se ele fala que não quer receber, não recebe. E sem servidor suficiente para cumprir mandados, esse agressor continua fora do alcance.”
A delegada lembra que, em muitas cidades do interior, os casos de violência doméstica representam cerca de 60% das ocorrências policiais. Além da subnotificação e da falta de monitoramento, Jannira aponta a necessidade de fortalecer a rede de proteção e apoio, incluindo grupos reflexivos para homens autores de violência.
51 feminicídios
De acordo com o Observatório Caliandra do Ministério Público de Mato Grosso, foram contabilizados 51 feminicídios em 2025, até novembro, número que já supera todo o registro de 2024, quando foram confirmadas 47 vítimas ao longo do ano. O avanço preocupa especialistas e reforça o alerta sobre o aumento da violência letal contra mulheres no estado.
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