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POLÍTICA Segunda-feira, 19 de Setembro de 2022, 08:55 - A | A

Segunda-feira, 19 de Setembro de 2022, 08h:55 - A | A

ELEIÇÕES DE 2022

Rosa Neide se lembra que amigos lhe recomendaram a ficar longe da política, 'pois há muita sujeira'

Janaina Arruda/Marisa Batalha/O Bom da Notícia

A deputada federal Professora Rosa Neide (PT), que busca sua reeleição à Câmara Federal, avalia que ainda faltam muitas mulheres na política. Sobretudo, que elas precisam querer estar nesses espaços, mesmo tendo sido ensinadas que este não é o ‘lugar de mulher’.

Ao Cast do Bom, no estúdio do O Bom da Notícia, nesta sexta-feira (15) - em bate-papo com a jornalista Marisa Batalha e a advogada Bárbara Lenza Lana -, a deputada conta que ela própria foi questionada quando se candidatou, em 2018, sobre o que iria fazer em um 'lugar de tanta sujeira'. Quando ela prontamente respondeu que iria levar uma vassoura para varrer a sujeira e deixar a casa limpa.

“Nos ensinaram que política não é lugar de mulher. Quando me candidatei, em 2018, e alguém me questionou o que eu queria fazer na política, conhecidamente, como um lugar de sujeira. Sendo que eu já estava aposentada e tinha trabalhado tanto. Eu falei que então iria levar uma vassoura para ver se consigo varrer um pouco desta sujeira, já que foi dado como uma das tarefas da mulher, varrer. E ainda vamos colocar os homens para varrerem junto. Pois é assim que vejo situações até engraçadas como esta, se não querem nos dar o espaço a gente vai lá e briga por ele e se for preciso a gente varre a sujeira. Mas para chegarmos a estes espaços de poder precisamos querer estar lá”, assevera.

Com uma longa atuação como educadora, Rosa Neide aponta a Educação não só como base da sociedade, mas a saída para todas as mudanças necessárias no âmbiência social e política.

“Eu vejo a educação como a saída, pois esta cota que exige a presença da mulher na política, claro, é importante, mas ela sozinha já mostrou que não resolve. E eu vejo isto todos os dias, como somos poucas nesta ambiência, em particular, na eleitoral. Nestas minhas andanças, por exemplo, se tem uma reunião no interior, chegando lá são todos homens. Cadê as mulheres? Não tem mulheres para participar da reunião? Elas estão cuidando de casa, de filhos, fazendo outros papéis para que os homens participem de reuniões políticas. [...] Precisa um grande movimento social!”, questiona.

Outro ponto que a deputada questiona é a quantidade de homens em relação as mulheres na história da Câmara Federal. “São mais de 10 mil homens e em torno de somente 200 mulheres que passaram pela Câmara Federal. Então essa representatividade nos fragiliza muito. Porque por anos não estivemos nesses espaços”.

Ela relata que em conversa coma deputada federal Benedita da Silva (PT), a deputada disse que em sua primeira legislatura tinham tão poucas mulheres que os seus colegas denominaram, naquele período, a participação das mulheres, no Congresso, como a bancada do batom. Época que não haviam ainda banheiros femininos próximo ao plenário.

“Não tinha banheiro feminino no entorno do plenário, porque diziam para que? Não tem mulher. Vocês vão lá no gabinete de vocês. Só que os gabinetes ficam muito longe e a gente andava quase um quilômetro para chegar cada uma em seu gabinete. Então aquelas 200 fotos lá, é uma afronta, porque passam de 10 mil homens a partiipação masculina. Então nesse sentido nós somos 53% dos eleitores, o outros 47% são nossos filhos e, assim, por que não estarmos lá? Somos mulheres, cidadãs, sobretudo, gestoras da humanidade”, ainda diz a deputada.

Aliás, a luta por uma maior participação feminina na política sempre foi uma das principais bancdeiras da deputada. Só pra saber das 513 cadeiras da Câmara, pouco mais de 70 são ocupadas hoje por mulheres (15%). A participação cresceu, mas ainda está longe de representar a sociedade.

 Sobre Rosa Neide

A deputada Professora Rosa Neide foi eleita deputada federal por Mato Grosso nas eleições de 2018, com 51.015 votos. É baiana do município de Amargosa, na Bahia. Formada em pedagogia e mestra em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso. Em 1980 atuou como professora da Educação Básica e 1992 como professora do nível superior, com foco nas Didáticas de Ensino. De 2007 a 2010 ocupou o cargo de secretária-adjunta de Políticas Educacionais. De 2010 a 2011 o cargo de secretária de Estado de Educação e reassumiu o cargo entre 2013 e 2014.

Paralelamente, as pastas que comandou, também presidiu o Fórum Estadual de Educação, o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e atuou como consultora do MEC.

Como deputada tem se dedicado a impedir mais retrocessos na Educação, sua principal bandeira de luta. Na crença absoluta que quando se avança na Educação, todas as outras áreas avançam junto. A partir desta premissa e como integrante da Comissão de Educação da Câmara e presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Escola Pública e em Respeito ao Profissional da Educação, ajudou a aprovar, em 2020, o novo Fundo da Educação Básica (Fundeb).

Em 2021, a deputada passou a integrar, como titular, a Comissão de Cultura da Câmara. E foi eleita por suas colegas parlamentares, como 2ª coordenadora-adjunta da bancada feminina.

A parlamentar se destacou no Congresso nacional por defesas aguerridas, dentre as mais eloquentes está sua luta pela Cultura. E dentre suas vitórias, se destaca seu projeto de lei que, em 2020, assegurou o Plano Emergencial para Enfrentamento à Covid-19 nos Territórios Indígenas, além medidas de apoio às comunidades quilombolas e aos demais povos e comunidades tradicionais, durante a pandemia.

Foi contra o processo de militarização de escolas públicas e foi premiada como uma das melhores parlamentares do país no Prêmio Congresso em Foco na categoria Melhores na Câmara Federal.