Nos últimos tempos, tenho recebido cada vez mais pacientes no consultório com uma dúvida comum: “Doutora, estou emagrecendo, mas meu cabelo está caindo e minha pele parece estar derretendo. Isso é normal?”A maioria dessas pessoas começou recentemente o uso do Mounjaro, um medicamento potente que, de fato, vem transformando o tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2. Mas como toda mudança intensa no corpo, os efeitos colaterais podem aparecer — e muitos deles impactam diretamente a autoestima.
Não há como negar os benefícios. Estudos como o SURMOUNT-1 mostraram que a tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, pode reduzir mais de 20% do peso corporal em pouco mais de um ano. É uma conquista enorme para quem convive com o excesso de peso. Mas a perda de gordura acontece tão rapidamente que o corpo nem sempre acompanha — e a pele, os músculos e os cabelos muitas vezes sofrem com isso.
A queda de cabelo é um dos efeitos mais observados nesses casos. Não tem relação com calvície genética, mas sim com um processo chamado eflúvio telógeno — uma resposta do organismo a mudanças drásticas, como o emagrecimento rápido. Quando há restrição alimentar ou dificuldade de absorção de nutrientes como ferro, zinco e proteínas, o couro cabeludo responde: os fios caem. É comum notar entradas nas laterais, afinamento capilar e a sensação de que o cabelo "não é mais o mesmo". Mas isso é reversível — desde que tratado com acompanhamento nutricional e dermatológico adequado, por profissionais capacitados.
Por outro lado, já me deparei com situações surpreendentes. Recentemente li um artigo científico que relatava o caso de um paciente com alopecia cicatricial — mais especificamente, foliculite decalvante — que, após iniciar o tratamento com Mounjaro, apresentou repilação em áreas calvas há mais de 30 anos. Apesar de ser uma condição que não tem cura, mas sim controle, esse caso levanta hipóteses interessantes sobre o possível efeito anti-inflamatório e imunomodulador da tirzepatida.
Embora ainda tenhamos poucos estudos científicos randomizados publicados especificamente na dermatologia sobre esses efeitos, o interesse crescente deve ampliar a produção de conhecimento nessa área. É provável que novas pesquisas e artigos reforcem, nos próximos anos, a compreensão sobre o impacto da tirzepatida também na pele e nos cabelos.
Outra queixa muito recorrente no consultório é a flacidez facial. Muitas pacientes relatam: “Doutora, estou adorando o corpo, mas meu rosto está derretendo! ”. E eu entendo. O volume facial perdido rapidamente modifica o contorno, reduz a firmeza e pode causar uma aparência envelhecida. Felizmente, hoje temos tecnologias como o ultrassom microfocado (ex: Liftera) e a radiofrequência monopolar (ex: Coolfase), que estimulam o colágeno e ajudam a devolver sustentação à pele. Associamos esses recursos a bioestimuladores e, em alguns casos, a ácido hialurônico em pontos estratégicos — sempre com naturalidade e equilíbrio, sem exageros.
E aqui vai um alerta fundamental: o uso de medicamentos potentes como o Mounjaro não deve ser feito de forma isolada. É essencial ter um endocrinologista de confiança, um nutricionista atento às suas necessidades e, claro, um dermatologista acompanhando cada etapa. Emagrecer com saúde vai além da balança — envolve preservar o bem-estar físico, emocional e a identidade de quem está passando por essa transformação.
A dermatologia está aqui para isso: não apenas para tratar os efeitos, mas para acompanhar você com responsabilidade, promovendo segurança, autoestima e leveza. Porque no fim das contas, quem busca mudar quer, acima de tudo, se sentir bem por dentro e por fora — e isso é profundamente legítimo.
Drª Cíntia Procópio é dermatologista, especialista em rejuvenescimento com naturalidade