Quinta-feira, 31 de Julho de 2025

ARTIGOS Quarta-feira, 23 de Julho de 2025, 11:05 - A | A

Quarta-feira, 23 de Julho de 2025, 11h:05 - A | A

Angelo Silva de Oliveira

O jogo do caos: Quem ganha com a desunião dos brasileiros?

O Brasil, com sua história de lutas pela liberdade e independência, vive hoje um momento delicado. Há quem, por interesses alheios ao bem comum, tenta minar nossa nação e a democracia. Este artigo convida você a refletir: quais são os padrões e as táticas de manipulação e desinformação que causam caos, disfarçando interesses pessoais de patriotismo? E, mais importante, como a força da nossa sociedade e o vigor de nossas instituições nos permitem proteger nosso país da divisão e da polarização fabricada que nos enfraquece?

OS PILARES INEGOCIÁVEIS DA NOSSA IDENTIDADE

Antes de qualquer análise sobre ameaças, é fundamental revisitarmos os fundamentos que moldam nossa identidade e nossa soberania. A Pátria, do latim patria, é a “terra dos pais”, o elo simbólico que une nossa cultura, história e identidade; é o chão que nos nutre. A Nação, derivada do latim natio, representa o conjunto de indivíduos que compartilham raízes, valores e objetivos comuns – somos nós, unidos por um destino coletivo. Nossa Independência é a autonomia política e econômica, a liberdade para decidir nosso futuro sem interferências externas. O verdadeiro Patriotismo é o amor genuíno pela pátria, expresso no compromisso com seu bem-estar e desenvolvimento. E o Civismo é a prática diária do respeito aos direitos, deveres e instituições democráticas, a base da vida coletiva e da construção de uma sociedade justa.

O marco de 7 de setembro de 1822 representa mais do que a ruptura com Portugal; simboliza o início da nossa jornada como nação soberana. Desde então, o Brasil trilha o caminho da construção de um país livre e autônomo. Essa conquista, no entanto, precisa ser constantemente defendida — sobretudo quando há tentativas, veladas ou explícitas, de submeter o país a interesses externos ou de grupos internos que buscam o controle, não o progresso. A história, aliás, está repleta de figuras que nos alertaram sobre os perigos da deslealdade à nação, como Ulisses Guimarães, que enfatizava que quem trai a pátria não deve ser perdoado, e Tiradentes, que encarnou o espírito de resistência à opressão colonial.

A PERIGOSA MANIPULAÇÃO PELO MEDO

“Trair a pátria” não é só lutar contra ela. Essa traição pode manifestar-se por meio de sabotagem institucional, visando minar as bases de nossas instituições; manipulação econômica, como a criação de crises artificiais ou o favorecimento de interesses estrangeiros em detrimento do mercado interno; disseminação do medo e da desinformação, incitando a discórdia e o pânico social para enfraquecer a coesão nacional; entrega de recursos estratégicos, cedendo patrimônios e riquezas nacionais; ou a subordinação a interesses estrangeiros, priorizando agendas de outras nações em detrimento da nossa própria autonomia.

Após as eleições de 2022, o Brasil assistiu à emergência de um padrão de comportamento político preocupante: a instrumentalização da mentira para desacreditar o processo democrático. Essa estratégia de desinformação não é nova. Já testemunhamos a criação e disseminação de narrativas enganosas que visam manipular a sociedade pelo medo e justificar agendas específicas. A veiculação de alegações infundadas sobre o processo eleitoral em 2022, convenientemente focadas apenas no pleito presidencial e ignorando a legitimidade das mesmas urnas para outras eleições, é um exemplo claro de orquestração desestabilizadora. Essa campanha levou milhares de cidadãos desavisados a cometerem atos de vandalismo e desrespeito às instituições, resultando em prisões e processos.

A gravidade dessas ações é inegável. De acordo com dados do Supremo Tribunal Federal (STF), dois anos após os ataques golpistas de 8 de janeiro, o STF já condenou 371 pessoas das mais de duas mil investigadas por participar dos atentados aos prédios dos três Poderes. Além disso, outras 527 admitiram a prática de crimes menos graves e fizeram acordo com o Ministério Público Federal (MPF), totalizando 898 envolvidos responsabilizados até janeiro de 2025. O processo segue: o núcleo idealizador e financiador desses atos está na mira do Poder Judiciário, com julgamento previsto para o segundo semestre de 2025.

O CAOS PLANEJADO: O QUE A PSICOLOGIA NOS ENSINA

Os atos de 8 de janeiro, ameaças e ataques à ordem institucional não foram por acaso. Foram articulados por desinformação e manipulação emocional para enfraquecer o Estado e abrir caminho para soluções autoritárias. Recentemente, surgem novas táticas: desestabilização econômica com previsões apocalípticas e chantagens veladas contra o governo. Curiosamente, esses discursos ecoam os mesmos que incitaram a desordem anos atrás. Para compreender a profundidade desses comportamentos, a psicologia nos oferece insights valiosos:
– Birra Emocional Adulta: Como crianças frustradas, adultos podem agir com narcisismo político, achando que tudo deve girar em torno de suas ideologias. Ameaças como “ou o país cede, ou o caos virá” são um sintoma dessa imaturidade.
– Chantagem Emocional: Baseada em culpa, medo e obrigação, essa tática tenta convencer a população de que a estabilidade do país depende da submissão a egos de líderes específicos, e não da força de suas instituições e da soberania do povo.

OS CUSTOS DE CEDER À PRESSÃO: O DESMONTE DA NAÇÃO

Ceder a essas pressões traz sérias consequências:
– Perda da soberania: O país fica refém de pressões externas ou de grupos internos.
– Deslegitimação das instituições: A chantagem política enfraquece o Judiciário, Legislativo e Executivo, minando a confiança.
– Cultura da impunidade: Quando não há punição para atentados e sabotagens, crimes políticos parecem não ter consequências.
– Estímulo à violência: A normalização da chantagem e do terror enfraquece o debate democrático e o respeito às regras.

Já vimos isso: promessas de “salvação” que resultaram em desmonte do patrimônio nacional, como a venda da Eletrobras e de partes da Petrobras. Tentaram até impor preços de bens essenciais em dólar, ignorando a realidade do povo. Essas ações comprometem nossa autonomia e riqueza.

COMO ENFRENTAR O CAOS: FIRMEZA, AUTONOMIA E FORÇA DA LEI

Diante dos desafios da manipulação e da desunião, é fundamental reconhecer que o Brasil possui mecanismos robustos e uma sociedade resiliente para enfrentar esses desafios. A resposta a esses comportamentos deve ser firme e unificada:
– Não recompensar chantagens: A melhor resposta é a firmeza. Ceder uma vez abre caminho para novas ameaças.
– Fortalecer a autoestima nacional: Precisamos confiar em nossa capacidade de decidir, sem nos curvar a pressões externas.
– Educação emocional e cívica: É urgente aprender a identificar a desinformação e os gatilhos emocionais da polarização.
– Reação baseada no direito: O enfrentamento deve ser institucional, pautado nas leis, sem pânico ou retaliação emocional.

AS LEIS QUE PROTEGEM A PÁTRIA

Cidadãos e autoridades precisam agir com rigor contra quem promove o caos. A legislação brasileira prevê punições para ações que fragilizam a democracia e a soberania. Conhecer essas leis é fundamental:

CÓDIGO PENAL (Decreto-Lei nº 2.848/1940):
– Art. 286 – Incitação ao crime: Punir discursos que estimulam violência ou desrespeito a decisões judiciais.
– Art. 287 – Apologia de crime ou criminoso: Punir quem enaltece atos violentos ou golpistas.
– Art. 288 – Associação criminosa: Punir grupos organizados que planejam desestabilizar a ordem democrática.
– Art. 288-A – Constituição de milícia privada: Punir grupos armados que buscam intimidar ou impor controle ilegal.
– Art. 359-I – Negociação com governo ou grupo estrangeiro visando a provocar guerra: Punir a busca de apoio internacional para desestabilizar o governo ou submeter o país a interesses estrangeiros.
– Art. 359-L – Abolição violenta do Estado Democrático de Direito: Punir tentativas de abolir a democracia, impedindo o funcionamento dos poderes constitucionais (como nos atos de 8 de janeiro).
– Art. 359-M – Golpe de Estado: Punir a tentativa de depor o governo legitimamente constituído (complementar ao anterior).

LEI Nº 13.260/2016 (Lei Antiterrorismo): Define e pune atos que visam provocar terror social, colocando em risco pessoas e patrimônio.

LEI Nº 8.137/1990 (Crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo): Pode ser aplicada a atos de desestabilização econômica por manipulação de mercado.

LEI Nº 9.613/1998 (Lei de Lavagem de Dinheiro): Se houver financiamento ilícito de atividades que causam o caos e a desestabilização.

NORMAS DE MERCADO (CVM), DA RECEITA FEDERAL E DO BANCO CENTRAL: Podem ser acionadas em casos de manipulação do mercado financeiro.

DIREITO INTERNACIONAL: O Brasil é signatário de tratados que condenam o terrorismo e lavagem de dinheiro, permitindo cooperação jurídica internacional.

O BRASIL RESISTE: O PERIGO DA POLARIZAÇÃO FABRICADA E A ARMADILHA DA SUBMISSÃO

A chantagem política não é sinal de força, mas de desespero. Nosso povo já viu promessas de “salvação” que, na verdade, resultaram no desmonte do patrimônio nacional. Não se engane: a polarização não é um acidente; é uma arma internacional. Onde há conflito interno, interesses externos prosperam, lucrando com a apropriação de nossas riquezas.

Outras democracias, como os Estados Unidos, também enfrentaram divisões profundas. Lá, uma parte da população travou uma guerra civil para manter a escravidão de seres humanos – uma ideologia, felizmente, vencida pelos abolicionistas daquela grande nação. No entanto, a história nos mostra que, mesmo em democracias consolidadas, as mentalidades daqueles que foram derrotados, que insistem em menosprezar a vida e a dignidade humana, podem por vezes submergir para, em momentos de fragilidade, tentar ressurgir com ideias já superadas, como por exemplo, o autoritarismo e práticas análogas à escravidão.

Precisamos estar alertas. É hora de reconhecer os sinais, desconstruir a polarização fabricada e resistir com maturidade, inteligência e, acima de tudo, união nacional. Defender a democracia, a soberania e a verdade é responsabilidade de todos nós. Não sejamos cúmplices daqueles que usam o falso patriotismo para entregar o Brasil a interesses sombrios e dividir seu povo para dominá-lo.

Referências

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Em dois anos, STF responsabilizou 898 pessoas por atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Notícias STF, 7 jan. 2025. Disponível em: https://noticias.stf.jus.br/postsnoticias/em-dois-anos-stf-responsabilizou-898-pessoas-por-atos-antidemocraticos-de-8-de-janeiro/. Acesso em: 20 jul. 2025.

CNN BRASIL. Brasil será mergulhado no caos se não ceder a Trump, diz Eduardo Bolsonaro. CNN Brasil, 18 jul. 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/brasil-sera-mergulhado-no-caos-se-nao-ceder-a-trump-diz-eduardo-bolsonaro/. Acesso em: 20 jul. 2025. 

Angelo Silva de Oliveira é cidadão brasileiro, mestre em Administração Pública (UFMS), especialista em Gestão Pública Municipal (Unemat) e auditor interno NBR ISO 9001:2015.