Uma mulher que não quis ser identificada afirmou, em entrevista exclusiva à TV Anhanguera, no domingo (9), que foi abusada sexualmente pelo médium João de Deus quando estava grávida, há 12 anos, em Abadiânia, na região central de Goiás. Ela afirma que se sentiu encorajada a denunciar o caso depois de ver o depoimento de outras vítimas durante o programa Conversa com Bial, da TV Globo, e que irá procurar o Ministério Público.
A mulher contou que é de família espírita e havia ido à Abadiânia conhecer o trabalho da Casa de Dom Inácio, onde o médium realiza os atendimentos. Ela afirma que se sentiu bem no local, que sentia uma energia boa, até que, um dia, quando estava grávida, foi chamada por João de Deus para uma sala íntima para que fosse atendida em particular. Ela tinha 26 anos.
“Era só ele na sala, e ele trancou a porta e pediu para eu fechar os olhos, que a partir daquele momento ele ia realizar uma limpeza. Foi pegando a minha mão e puxando e levando em direção à virilha. E eu assustei, puxei a mão. Foi quando ele falou ‘olha, você não precisa ter medo, porque o que nós estamos trabalhando aqui é uma entidade que te possui sexualmente e tem muito ciúme de você. Isso que eu estou fazendo, esse contato físico que nós estamos tendo, é justamente para que esta entidade mostre a cara dela. E só desta forma, com este contato, que nós vamos conseguir te libertar”.
“E aí ele abriu a camisa, e pegou minha mão de novo, com força, firme, e começou a passar no peito dele. Na hora você não tem força, você não tem autoridade diante de uma pessoa enviada, com uma missão divina, de discutir com isso”, desabafou a mulher.
O advogado Alberto Toron, que defende o médium, afirmou que o cliente nega as acusações e que ele está à disposição da Justiça para esclarecimentos (veja íntegra do posicionamento da defesa no fim da reportagem).
O jornal "O Globo", na TV Globo e no G1 têm publicado nos últimos dias relatos de dezenas de mulheres que se sentiram abusadas sexualmente pelo médium. Não se trata de questionar os métodos de cura de João de Deus ou a fé de milhares de pessoas que o procuram.
Após as denúncias, o Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) e a Polícia Civil goiana instauraram investigações, com o objetivo de identificar outras mulheres que afirmam ser vítimas e apurar a vida do médium. Conforme relatos colhidos até o último sábado (8), os abusos sexuais teriam ocorrido dentro no local desde a década de 80 até outubro do ano passado.
De acordo com o promotor Luciano Miranda Meireles, com a quantidade de mulheres que já relataram crimes, a Casa de Dom Inácio pode ser interditada.
“No âmbito cível, será possível até mesmo a interdição do estabelecimento. No âmbito criminal, pelo número que nós temos até agora, de 10 vítimas, estas penas podem chegar a até 150 anos. Embora os relatos sejam parecidos, não são o mesmo crime, nós temos o crime de estupro, crimes de abuso sexual mediante fraude, e crime de estupro de vulnerável, cada uma com a sua particularidade. Então a gente tem que analisar, a pessoa tem que dar o seu depoimento”, explicou.