Segunda-feira, 06 de Maio de 2024

CIDADES Domingo, 04 de Abril de 2021, 10:10 - A | A

Domingo, 04 de Abril de 2021, 10h:10 - A | A

IMPACTOS DA PANDEMIA

Abrigo Bom Jesus pede apoio à população, ao evidenciar que pandemia tem devastado a vida de idosos

Márcio André / Especial para O Bom da Notícia

foto: divulgação

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A velhice é considerada a terceira idade da vida humana e se caracteriza pela queda de força e degeneração do organismo, ou seja, ao longo da vida têm-se várias fases e é com elas que você cresce e amadurece. Desta forma, os acidentes se tornam mais comuns e as funções rotineiras se tornam bem mais difíceis. Isso faz com que fiquem a dispor de seus familiares sendo considerados incômodos ou improdutivos o que muitas vezes leva ao abandono segundo os dados do IBGE é de 76,3 anos.

E a concentração de brasileiros no estágio mais avançado da vida tem aumentado: atualmente, a porcentagem da população com mais de 65 anos é de 9,83%, e esse número aumentará para 25,49% em 2060, conforme as projeções do IBGE. Isso evidencia o fato de que há uma necessidade grande de a população idosa tenha seus direitos garantidos e respeitados, e que a população mais jovem tenha um olhar mais atencioso e empático para com eles. Apesar de o Estatuto do Idoso prever que este tem o direito à vida, saúde, esporte, cidadania, etc., isto nem sempre acontece. Infelizmente muitos, quando passam a depender de terceiros para manter sua rotina, começam a ser abandonados, principalmente pela família, o que causa traumas psicológicos cruéis na vida destes.

E com relação à saúde, este público por sofrerem com a queda natural da resistência do organismo, foi o que mais sofreu com o avanço da pandemia no Brasil e no mundo: o percentual de idosos vítimas de Covid no Brasil ultrapassa 70% em relação ao total de óbitos. Também por isso a campanha de vacinação esteja direcionada principalmente aos mais velhos neste primeiro momento. E não obstante, houveram vários casos em que abrigos de idosos tiveram a população interna totalmente afetada pelo contágio do vírus, havendo um alto número de mortos.

Além disso, estes abrigos de idosos tiveram que adotar políticas severas de distanciamento social, impedindo a entrada de visitantes e grupos socioassistenciais, o que fez com que os internos destes locais tivessem uma vida bem mais tortuosa, afinal era através de visitas e grupos de recreação que os idosos tinham contato com a sociedade, de certa forma.

Esta é uma realidade vivenciada pela Fundação Abrigo Bom Jesus, em Cuiabá. A instituição, que desempenha atividades socioassistenciais de amparo ao idoso desde 1940,  atravessa momentos bem delicados. É bem verdade que o abrigo adotou uma política rigorosa de combate à pandemia, e por isso não sofreu a perda de internos e funcionários. No entanto, a questão do convívio dos idosos com o ambiente externo e também com relação às doações – que representam uma parte expressiva das receitas da fundação – ficaram bastante comprometidas devido a contexto atual, com a elevação da inflação, desemprego e o pânico que atingiu as famílias cuiabanas. Até mesmo por isso, o abrigo iniciou este ano uma campanha para arrecadar alimentos que estão em falta, visando mobilizar a população à “abraçar” novamente o abrigo de maneira ainda mais intensa no país.

A equipe de reportagem do site O Bom da Notícia conversou com Yuri Souza, que é membro do quadro de funcionários da Fundação Abrigo Bom Jesus de Cuiabá, do setor administrativo, e falou sobre a realidade que a instituição atravessa neste momento. A seguir, a entrevista na íntegra.

O Bom da Notícia: Quantos idosos o abrigo atende?

Yuri: Atualmente, a fundação atende entre 84 e 86 idosos. Tivemos alguns acolhimentos recentemente, por isso não consigo te informar o número exato.

O Bom da Notícia: Quantos colaboradores há no abrigo?

Yuri: Hoje a fundação está contando com um time de 46 colaboradores e temos agora uma empresa contratada para realizar a higienização do espaço e também a portaria. Temos na equipe de saúde um grupo de 16 cuidadores, 6 técnicos de enfermagem, 3 assistentes sociais e uma psicóloga. E temos 6 pessoas encarregadas dos serviços gerais e 2 pessoas na portaria, que recebem doações, pessoas que vão até lá pedir alguma informação e recepção de visitas. Mas nossa equipe é essa: 46 colaboradores da instituição e 8 funcionários terceirizados.

O Bom da Notícia: Qual a forma de custeio das despesas (benefícios dos internos, doações, apoio governamental)?

Yuri: Recebemos doações em dinheiro, principalmente no lançamento de alguma campanha para arrecadação de colchão, alimentos, itens de higiene pessoal, e algumas pessoas, ao invés de fazerem a aquisição destes itens no mercado, eles enviam o dinheiro na conta de doações da fundação, para que possamos fazer a aquisição dos itens necessários. Além disso, temos acesso ao benefício dos idosos, que de acordo com o Estatuto, 70% do benefício deste idoso é direcionado à instituição que o acolhe, para manutenção de despesas, do pessoal que os atende. Também temos uma folha de pagamento grande e bem expressiva. E dos mais de 80 idosos que temos, o valor que arrecadamos do benefício destes não consegue cobrir totalmente a nossa folha de pagamento. Cobrem apenas cerca de 40% da folha. A fundação possui também algumas casas situadas na Rua Doze de Outubro, alguns imóveis estão em bom estado de conservação, outros nem tanto e inclusive estão dando prejuízos para a fundação. Parte delas, que ficaram vazias por muito, sofreram a invasão de moradores de rua e usuários de drogas. Então a fundação perdeu parte do patrimônio com as invasões. Mas também temos alguns imóveis em um condomínio em Várzea Grande. São sete casas em um condomínio fechado que geram uma renda em aluguéis que retornam à fundação. Hoje temos um convênio com a prefeitura, que nos ajuda a pagar a folha de pagamento da fundação. Ajuda a cobrir parte das despesas.

O Bom da Notícia: Qual é a forma de ingresso no abrigo?

Yuri: Quanto a forma de ingresso, a fundação prioriza sempre idosos em situação de risco e vulnerabilidade social, no município de Cuiabá. Ou seja, são idosos que não têm família, que estão em situação de abandono. Pessoas que não tem recursos para se manterem sozinhos, e de alguma forma foram abandonados ou dependem de terceiros que não podem dar tanta assistência. Então este é o público que a fundação atende hoje. Geralmente, a gente recebe solicitação de acolhimento pelo CRAS e CREAS. Normalmente são destes centros de assistência social que encaminham, e nossa equipe técnica se reúne e verifica se ele se enquadra nos critérios da fundação.

O Bom da Notícia: As famílias dos internos auxiliam-nos de alguma forma?

Yuri: A maior parte do nosso público não tem relação familiar. Estão numa situação de abandono mesmo. A gente não vê a família, alguns a gente sabe que tem família, mas a família não vai atrás. Alguns familiares até fazem visitas, mas na questão de ajuda financeira ou prestação de algum serviço basicamente inexiste. Não temos essa dinâmica com os familiares. Os poucos familiares que aparecem na fundação vão apenas para ter uma interação mesmo.

O Bom da Notícia: Como a pandemia afetou o abrigo?

Yuri: Quanto à pandemia, até o momento não tivemos idosos contaminados ou óbitos de acolhidos. A equipe técnica de saúde seguiu rigorosamente todos os protocolos e mantiveram a saúde dos idosos em dia. Hoje, todos os internos estão vacinados. E 95% dos funcionários também já foram imunizados com a CoronaVac. E afetou a fundação no sentido das visitas. Antes da pandemia era muito recorrente grupos fazerem ações lá, levarem entretenimento, interação e isso os distraía e divertia bastante. Então isso impactou um pouco eles, pois a gente percebe que mesmo os cuidadores fazendo o que podem para animá-los, continuamos a fazer os eventos internos (carnaval, festa junina, etc.), não é a mesma coisa, pois a gente percebe que os idosos mais lúcidos sempre perguntam os amigos sobre os grupos. Isso impactou eles de alguma forma emocionalmente, porque essa interação com o público era o que mantinha essa alegria deles de estar ali e esquecerem um pouco as dores e traumas. Hoje estamos apenas com o grupo dos funcionários que estão lá. Então é uma coisa que a gente percebe que afetou o lado emocional deles. Também afetou o abrigo com relação às doações, principalmente do final de 2020 para o início de 2021, onde a gente teve uma queda significativa no fluxo de doações, e isso preocupou a gente, tanto é que lançamos campanhas de doação, solicitando alimentos para a comunidade, e isso voltou a impulsionar neste quesito. O pessoal tem sido solidário neste momento tão difícil, que a inflação está aí, o dólar subindo, e isso impacta o bolso das pessoas, e consequentemente às doações. Mas com a campanha tem sido um sucesso, e temos recebido assim as doações. Mas a gente teve que realizar a campanha para que a comunidade ajudasse um pouco mais. Antes era algo muito orgânica: as pessoas já conheciam o trabalho da fundação e as suas necessidades, e já se mobilizavam eles mesmos para criar situações para beneficiar a instituição e hoje não vemos isso com tanta frequência.

Conforme citado, o abrigo hoje precisa de doações para conseguir continuar desempenhando suas atividades com os idosos em Cuiabá, principalmente em relação à alimentos (bolacha de água e sal e de amido de milho; cereal infantil; aveia; leite; açúcar; óleo; feijão; amido de milho; molho de tomate; frango; e sucos). Quem quiser apoiar e contribuir com o abrigo deve entrar em contato através dos telefones (65) 3644-1706 e (37) 98112-0188, ou se dirigir à sede da fundação que fica situada à Av. Hélio Ponce de Arruda (ao lado da 13ª Brigada).