Após censurar a professora aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Maria Inês Barbosa, por uso do pronome neutro 'todes', o prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini (PL), voltou a protagonizar mais um episódio polêmico durante a Conferência Municipal de Saúde.
O momento registrado em vídeo na última quarta-feira (30) e publicado nas redes sociais do prefeito nesta sexta-feira (1º) mostra a discussão entre o gestor da Capital e o coordenador do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (IBRAT) em Mato Grosso, Julian Tacanã, por causa de identidade de gênero e uso do pronome neutro.
No vídeo, o homem trans defende a professora da UFMT e pede para ser tratado pelo pronome neutro - linguagem adotada por pessoas não binárias e alguns grupos LGBTQIAPN+. O prefeito, por sua vez, responde de forma negativa: “Todes não existe. Todes é chocolate. Todes é uma palavra que não existe na língua portuguesa. Qual dicionário está escrito todes? Agora, usar o instrumento legal da Prefeitura de Cuiabá, que é uma Conferência Municipal de Saúde, promovida e custeada pelo município de Cuiabá, para transformar isso como um ato de militância do pronome neutro, não vamos aceitar", disse Abilio.
Durante o 'bate-boca', Abilio negou que tenha expulsado Maria Inês do evento. "Tá registrado. Eu falei lá: se a senhora quiser continuar a discussão da saúde pública de Cuiabá, está aberta a discussão, a senhora pode ministrar. Se a senhora quiser fazer uso do pronome neutro ou de militância ideológica na manifestação da discussão da saúde pública de Cuiabá, aí nós não vamos aceitar".
Julian continuou defendendo a professora e pontuou que Abilio foi desrespeitoso. Por fim, o prefeito da Capital se referiu a Julian como 'ela' e foi repreendido. "Eu não sou ela. Eu sou ele, sou um homem trans. Eu sou uma pessoa trans que usa ele".
Repercussão
Após o episódio polêmico, a União da Juventude Socialista de Mato Grosso (UJS-MT) republicou uma nota de repúdio.
"A UJS Mato Grosso se solidariza com o companheiro Julian Tacanã, estudante indígena, trans e LGBTQIA+ da UFMT, que está sendo alvo de perseguição e violência política por parte do prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini.
Veja na íntegra:
Durante a Conferência Municipal de Saúde, Julian apenas exerceu seu direito democrático de manifestação ao defender a professora Maria Inês, que havia sido expulsa do evento simplesmente por usar uma saudação inclusiva ao se dirigir ao público com um "todas, todos e todes". Esse ato de respeito à diversidade foi tratado como provocação pelo prefeito, que mais uma vez demonstrou seu desprezo pelas pautas da equidade, da inclusão e dos direitos humanos.
Ao invés de conduzir o debate com responsabilidade institucional, Abilio escolheu o caminho da intimidação e da violência política, tentando calar Julian e deslegitimar sua imagem pública com vídeos editados e perseguição online uma prática recorrente em setores que flertam com o autoritarismo e se recusam a conviver com a pluralidade de ideias. Não se trata de um caso isolado, mas de um ataque deliberado a tudo o que representa o Brasil real: diverso, democrático e em construção por meio das vozes da juventude, dos povos originários, da população LGBTQIA+, dos trabalhadores e trabalhadoras que lutam por políticas públicas com justiça social.
A UJS-MT não se calará diante dessa violência. Reafirmamos nosso compromisso com a liberdade, com a diversidade e com todos que resistem ao avanço de projetos autoritários que tentam calar a juventude e os movimentos sociais. Nosso lado é o da justiça, da coragem e da liberdade. Estamos com Julián. Estamos com Maria Inês. Estamos com todos que não se curvam ao autoritarismo.
Abílio não nos representa. Fora com a política do ódio! Viva a diversidade! Viva a juventude que luta!
Veja vídeo: