No dedo do gatilho dá até caimbra
Se você trabalha com algum membro de sua família, leia cuidadosamente este artigo. Vou explicar porque tudo é tããããããoooooooo complicado: Todas as moedas têm duas faces, mas uma nunca vê a outra porque estão de costas. Assim são as empresas familiares, uma moeda com duas faces e que são tão necessárias uma como a outra. Se não, quem já ouviu falar de uma moeda com uma face só? Experiência e Conhecimento são fundamentais para o sucesso.
Mas vejamos...
De acordo com um levantamento feito pelo IBGE, mais de 90% das empresas brasileiras são de natureza familiar, isto é, existe um empresário que dá trabalho a um conjunto de familiares, uns mais outros menos, próximos.
A grande dificuldade dos empresários é conseguir que os conflitos pessoais ou familiares não contaminem o ambiente de profissionalismo da empresa. Essa compartimentalização quase nunca acontece e a empresa é, na verdade, uma extensão da cultura familiar.
Mais que nunca, estas empresas necessitam de encontrar o seu posicionamento estratégico, ou seja qual a direção que vão tomar bem como as regras que todos, sem exceção, devem seguir.
Por exemplo, todos falam de Missão Visão e Valores. Não é um exercício em vão. Mas você tem consciência que os valores, por exemplo, são elementos que definem claramente uma cultura de empresa e que de antemão você já sabe que quem não respeita esses valores não é um bom recurso para a empresa e que, se não fosse seu parente, você nunca contrataria, em caso algum.
Este cenário, tão comum, necessita de uma abordagem delicada, indiscutivelmente, mas a sustentabilidade da empresa depende que o seu gerenciamento seja baseado em objetivos e resultados e não em privilégios ou ascendência. Existe ainda outro problema, que não o da consanguinidade: a questão da profissionalização dos familiares, uma vez que nem todos estão convenientemente capacitados, tecnicamente, para dela participar.
Então, quais são os grandes desafios da gestão de empresas de natureza familiar
Em primeiro lugar, conflitos geracionais. Enquanto os “Baby Boomers” (nascidos ente 1945 – 1964) criaram as empresas e os negócios no fio do bigode, os Millenials (1985 – 1999) e GenZ (2000 até agora) têm uma visão muito mais conectada, tecnológica, quase desmaterializada, onde os posts são mais importantes que os relacionamentos e que consideram os benefícios que têm, decorrentes dos esforço dos pais, são um direito adquirido.
Em segundo lugar, devido a possuírem um conhecimento tecnológico muito mais desenvolvido, as novas gerações desenvolveram também uma imagem autorreferente, de infalibilidade, que cria também conflitos de natureza pessoal e familiar que são transpostos para a empresa.
Seguidamente, vem o conflito entre confiança e conhecimento: as pessoas que são confiáveis para os donos nem sempre têm os conhecimentos necessários para conduzir a gestão de determinados processos. E por outra perspectiva, quem tem os conhecimentos, ainda não granjeou a confiança. Existe, ainda, uma resistência grande em fazer essa transição, em entender que, aquela pessoa está na empresa há bastante tempo e contribuiu muito para os resultados, mas que são necessárias novas habilidades e conhecimentos para a empresa do futuro.
A capacidade de inovação é também um dos maiores desafios para uma empresa de natureza familiar. Seja inovar nos processos, nos produtos, no valor que acrescentam à sua própria cadeia de valor, a gestão familiar não tem uma visão orientada às estratégias de mercado, e isso acaba resultando em um desempenho inferior, e isso fica mais visível em momentos de crise quando a queda nos resultados se mostra mais presente.
A adaptação à tecnologia, como já mencionei, é uma zona de conflito permanente, já que de um lado existe a exigência de informação de gestão e de outro a incapacidade de conviver com essa mesma tecnologia. Tradicionalmente, e quando falo tradicionalmente, falo das experiências que tive como consultor desse segmento, as gerações mais novas usurpam o poder (através da tecnologia) ao lidarem com o desinteresse (sobre tecnologia) da geração que os precedeu.
Toda empresa familiar é envolvida por paixão e geralmente cresce por meio do esforço e da visão de um membro da família que se dedicou anos, trabalhando duro e sacrificando momentos importantes de sua vida para o sucesso da empresa. As coisas estão longe de ser um conto de fadas… mas nunca será tão ruim, como naquela empresa de agronegócio onde eu estava fazendo consultoria, em que a discussão ficou tão acesa que pai e filho tiraram os revólveres para fora, com ameaças.
E era só segunda feira....
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