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CIDADES Segunda-feira, 07 de Outubro de 2019, 06:00 - A | A

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VEJA DADOS

Tuberculose e HIV: coinfecção cresce em Mato Grosso

Mato Grosso apresenta crescimento de 3,3 pontos percentuais de pessoas com tuberculose e também com resultado positivo para o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), a chamada coinfecção. O segundo boletim “Panorama epidemiológico da coinfecção TB-HIV no Brasil 2019” mostra que, em 2017, último dado levantado, o índice de coinfecção no Estado era de 13,1% enquanto, no 1º boletim, com dados de 2016, era de 9,8%.

 

Em 2017, o Estado registrou 1.217 novos casos de tuberculose e 160 pacientes tinham HIV. Em 2016 foram 1.070 novos casos de TB, sendo 105 com HIV. No Brasil, em 2017, dos 74,8 mil novos casos de tuberculose registrados, 11,4% apresentaram resultado positivo também para o HIV, o que representa 8,5 mil pessoas infectadas pelas duas doenças (TB-HIV). Em 2016, eram 9,4%. 

 

Outro dado analisado é em relação ao número de pacientes que descobriram o HIV somente durante o tratamento da tuberculose. Em 2017, foram 65 pacientes, ou 40,6% em Mato Grosso. De acordo com o Ministério da Saúde, a tuberculose é a doença infecciosa mais frequente nas pessoas vivendo com HIV e tem grande impacto na qualidade de vida e na mortalidade dessa população. 

 

Desde 1998, todas as pessoas com diagnóstico de TB ativa devem ser testadas para HIV, com priorização do uso do teste rápido para HIV desde 2015

Uma pessoa vivendo com HIV tem 25 vezes mais chances de contrair tuberculose do que uma pessoa que não tem HIV. Desde 1998, todas as pessoas com diagnóstico de TB ativa devem ser testadas para HIV, com priorização do uso do teste rápido para HIV desde 2015. Infectologista Zamara Brandão explica que a tuberculose é uma doença grave assim como a Aids e, quando reunidas (na coinfecção), uma agrava a outra. Por isso, a pessoa que tem o vírus do HIV precisa fazer o teste para saber se tem o bacilo da tuberculose, e quem tem o bacilo da tuberculose precisa fazer o teste para saber se tem o HIV. Tanto o bacilo quanto o vírus podem ficar escondidos no organismo por um tempo. 

 

Por isso, mesmo que ainda não tenham surgido sintomas, os exames devem ser feitos. V.A.L., 28, tem o vírus do HIV e, após o diagnóstico, que ocorreu em 2015, ao realizar diversos outros exames, também descobriu que tem o bacilo “dormente” da tuberculose. Conhecida como Infecção Latente por Tuberculose (ILTB) ou tuberculose latente, a condição diz respeito à pessoa que teve contato com o bacilo causador da doença, mas não tem a doença ativa no organismo. Desde então, V.A.L. afirma que realiza acompanhamento mensal, além do tratamento de terapia antirretroviral (TARV) para não desenvolver a tuberculose e preservar o sistema imunológico. 

 

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) foi procurada para falar sobre o assunto e informou que não era possível o atendimento da demanda em razão de outros compromissos da área técnica.

“Estou em constante vigilância, prestando atenção em sintomas e quando desconfio de algo, já procuro o médico, porque como eu tenho o bacilo, tenho muito mais chances de ter a tuberculose do que outras pessoas que não têm”.

 

De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento da ILTB reduz o risco de reativação da doença em mais de 60%. A infecção dupla por tuberculose e HIV aumenta em mais de 200% a chance de óbito quando comparado a pessoas com tuberculose e sem HIV. Significa que dentre as pessoas com HIV e TB, 19% evoluem para óbito, contra 6,2% naquelas que possuem apenas tuberculose, sem a presença do vírus HIV.

 

Combate

 

Uma das estratégias para evitar as complicações que a coinfecção pode causar, segundo a infectologista Zamara Brandão, é ampliar o acesso ao diagnóstico do HIV, já que diagnosticá-lo durante o evento da tuberculose aponta para um diagnóstico tardio.

 

Por isso, segundo ela, é importante que dados como o que o boletim traz sejam considerados para a oferta de ações e organização de serviços, para evitar o atraso no diagnóstico. O próprio Ministério da Saúde aponta outras possíveis ações para ampliação do diagnóstico de HIV como a ampliação do horário de funcionamento das unidades de saúde e a capacitação de profissionais para o aconselhamento e testagem, dentre outras. 

 

O órgão destaca, ainda, a importância de iniciar logo o tratamento. Outra recomendação é a prevenção da infecção por tuberculose latente em pessoas vivendo com HIV.

 

Dados

 

Estados da região Sul apresentam maiores percentuais de coinfecção do país. Rio Grande do Sul tem proporção de coinfecção TB-HIV18,5% e Santa Catarina 17,4%. Em seguida está o Distrito Federal com 17,0%. Além desses, mais 8 estados apresentaram percentuais de coinfecção acima do percentual nacional, entre eles Mato Grosso. Para o Brasil, 41,7% dos casos de coinfecção tiveram o diagnóstico de HIV devido ao evento de TB. Nos estados de Rondônia, Amazonas, Roraima, Tocantins e Ceará, em mais de 50% dos casos, o HIV foi diagnosticado devido à TB. (Reportagem de Dantielle Venturini)