Em um caso que vem causando alerta no sistema de saúde da Argentina há meses, quase 100 pessoas já morreram após receber fentanil contaminado por bactérias em hospitais do país.
Os casos são registrados desde maio e afetaram pacientes internados por múltiplos motivos, em diferentes instituições. Em comum, o medicamento recebido: o fentanil, um poderoso opioide, produzido pela farmacêutica HL.B Pharma seu laboratório parceiro, o Ramallo.
O que se sabe sobre o caso
Após os primeiros registros de mortes, investigações identificaram que os pacientes haviam sido infectados por cepas resistentes das bactérias Klebsiella pneumoniae e Ralstonia pickettii.
Conforme a apuração avançou, autoridades argentinas conseguiram localizar dois lotes do fármaco produzido pela HLB Pharma relacionados aos casos. Oficialmente, 87 mortes já foram confirmadas, mas outras nove vítimas na cidade de Bahía Blanca devem ser incluídas nas listas nos próximos dias, segundo uma fonte familiarizada com as investigações revelou, com exclusividade, ao jornal Buenos Aires Herald.
A maior preocupação do momento é identificar corretamente todos os possíveis casos vinculados à crise. Isso porque, embora os lotes problemáticos já tenham sido recolhidos, estimativas apontam que até 45 mil ampolas do fentanil contaminado tenham sido administradas a pacientes ao redor do país antes da descoberta da origem do problema.
O governo argentino vem pressionando a Justiça pela prisão do dono do laboratório, Ariel García Furfaro. Já o empresário alega que as mortes não podem ser conectadas ao medicamento e afirma que as bactérias teriam sido "plantadas".
O que é o fentanil
O fentanil é um medicamento opioide utilizado para anestesias e alívio da dor: em termos simples, ele atua para bloquear os sinais de dor no cérebro. Dependendo da dosagem, ele pode ser até 100 vezes mais potente do que a morfina.
A indicação é para casos de dor extrema ou que são resistentes a outros tipos de analgésicos. Mas, devido ao grande poder desse medicamento, a administração deve ser feita sempre em ambiente hospitalar para garantir a segurança.
O caso argentino não tem a ver com o risco inerente ao fentanil, pois envolveu uma contaminação externa. No entanto, mesmo em condições normais, o uso indiscriminado de fentanil pode causar dependência. Também é relativamente fácil superar as doses máximas toleradas pelo corpo, o que leva à morte por overdose.
Em anos recentes, o uso não-médico do fentanil tornou-se um problema de saúde pública nos Estados Unidos, com a substância sendo consumida ilegalmente fora de ambientes hospitalares. Números oficiais do governo americano indicam que quase 125 mil pessoas morreram por overdose de fentanil nos últimos dois anos.