Com objetivo de levar, através do Whatsapp, o teatro de bonecos com personagem e temática relacionados ao quilombo de Mata Cavalo, um grupo compossto por nove integrantes do Coletivo Nandaia se reuniu para criar o projeto Bendizê com recursos da Lei Aldir Blanc.
Bendizê é um projeto de circulação presencial e virtual que tem como foco percorrer a Comunidade Tradicional Quilombola de Mata Cavalo, com o seu espetáculo de bonecos.
A coordenadora de pesquisa e roteirista, Flávia Brito, explicou ao O Bom da Vida que o pontapé inicial para a criação do projeto foi sua pesquisa de doutorado.
[...] pensei em uma forma de me comunicar e levar as reflexões sobre benzeção de forma leve, clara e bonita
“Na pesquisa de doutorado, eu pesquiso benzedeiras e benzedores. Com as dificuldades geradas pela pandemia e o isolamento social, fiquei impossibilitada de realizar pesquisa de campo na comunidade, e pensei em uma forma de me comunicar e levar as reflexões sobre benzeção de forma leve, clara e bonita”, explica.
O nome Bendizê está atrelado a temas recorrentes na comunidade, como a devoção a São Benedito, festas populares, danças, mas principalmente, a medicina popular. Bendizê junta o nome benzer com a percepção que as pessoas tem da benzeção, que é o ato de bem dizer, de desejar o bem.
Como a benzeção é um ato importante no cotidiano brasileiro, seja no quilombos ou nas periferias das cidades, Flávia e os membros do coletivo Nandaia, se aprofundaram e pesquisaram, por meio das redes sociais, as questões relacionadas à benzeção para submeter o projeto no edital MT Nascentes lançado pela Secretaria de Estado de Cultura.
Com o projeto aprovado, eles conseguiram executá-lo da forma como imaginavam e, em dezembro de 2020, o grupo se juntou na cidade de Macaé, no Rio de Janeiro, onde residem os atores e demais membros do coletivo, para roteirizar a história e realizar a produção e filmagens do espetáculo.
O personagem escolhido para contar a história foi seu Antônio Mulato, que viveu em Mata Cavalo durante toda sua vida. Lá a medicina popular está muito presente e a benzeção, tema gerador das reflexões, perpassa os vários momentos do cotidiano dos moradores e moradoras.
“A ideia agora é levar as histórias do quilombo nos celulares pelo Brasil afora, valorizando e até mesmo denunciando as violências sofridas pelo povo quilombola especialmente nos últimos anos. Se conseguirmos, como parceiros e apoiadores da luta quilombola, que a voz de seu Antônio Mulato ecoe, teremos cumprido o objetivo do projeto”, disse.
Devido a pandemia do novo coronavírus, o projeto ocorrerá em formato virtual, por meio de vídeos que serão enviados pelos celulares. Os vídeos serão divididos em três episódios e, para recebê-los, serão distribuídos cartões com o número de Whatsapp do projeto. Assim, a pessoa adiciona o contato e envia a mensagem "Eu quero". Logo após, ela passará a receber o espetáculo no conforto de sua casa. Além disso, os cartões vêm com sementes para serem plantados para ajudar o meio ambiente.
O projeto tem previsto uma visita na comunidade de Mata Cavalo, em abril, onde irão realizar um cortejo com músicas e a presença do boneco de seu Mulato, para que os familiares e amigos possam vê-lo de perto. No entanto, a visita ainda não é certa devido ao aumento dos casos de covid-19 em Mato Grosso.